Klaus - 1995

Klaus esta fazendo 18 anos. Foi uma longa caminhada até esta maioridade. Parabéns filhote.

Sintra, Portugal.
Dia 11 de Janeiro de 1995.
06:00 hs
Sandra acordou com dores que pareciam ser as primeiras contrações do parto, ela já estava com quarenta semanas de gravidez. As contrações estavam aumentando de intensidade e o intervalo entre elas diminuindo, mas mesmo assim Sandra não me acordou.
07:00 hs
Sandra começa a arrumar as roupas dela, as do bebe já estavam em uma pequena bolsa há alguns dias. Durante esta movimentação ela acendeu a luz eu despertei ligeiramente mas logo voltei a dormir pois parecia tudo normal.
Apesar das dores ficarem mais intensas ela não quiz me acordar pois a bolsa d'água ainda não havia rompido.
08:00 hs
Como as contrações não estavam muito freqüentes Sandra voltou a deitar.
As duas meninas ainda não haviam acordado e como era inverno ainda estava escuro e frio.
08:30 hs
Sandra, ainda deitada, me acorda e diz que estava sentindo muitas contrações.
Levantei, perguntei pelas malas com as coisas dela e do bebe e fomos fazer nosso café da manhã. As contrações começaram a aumentar de intensidade e período, o parto era para breve.
09:30 hs Acordei as meninas.
Enquanto as vestia para leva-las para D. Isabel, a ama que cuidava delas durante o dia, rompeu-se a bolsa d’água. Sandra me avisa mas diz não sentir muitas contrações.
- Pela experiência dos outros dois partos ainda devem faltar algumas horas.
Desci liguei o carro e comecei a carrega-lo com as bolsas e tudo que levaríamos para a maternidade.
10:00 hs
Sandra sente uma contração muito forte e me chama. Faço um toque no útero e sinto que ele já tinha pouco mais de um dedo de dilatação.
- Vamos para o carro, já está tudo pronto.
Descemos as escadas e quando chegamos no portão Sandra sente uma contração muito forte. Ela me olha e diz que não vai dar para chegar na maternidade em Lisboa, que fica a 18 km de nossa casa.
As contrações se aceleraram muito rapidamente e de forma muito diferente das outras duas vezes. Voltamos do portão e encontramos D. Isabel que percebe o que esta acontecendo
- Voltem e tenha seu filho em casa já que seu marido percebe dessas coisas.
Ela se referia a eu ter cursado alguns anos de medicina, ter sido interno numa maternidade e ter feito algumas dezenas de partos.
Voltamos e Sandra subiu os degraus já com dificuldade. No fim da escada veio outra contração ainda mais forte e ela precisou se controlar para o bebe não nascer ali mesmo. Fomos direto para o quarto.
D. Isabel tinha nos seguido e lhe pedi que me trouxesse um plastico bem grande para forrar a cama. Sandra já estava deitada, perguntei-lhe por uma tesoura grande.
- Esta no armário da cozinha e há uma outra mais afiada na minha caixa de costura. Coloquei as duas para ferver enquanto D. Isabel chegava com um plastico enorme.
- Desculpe mas como não tinha nada muito grande tirei a cortina da banheira.
Sandra já estava em trabalho de parto com dores muito fortes e contrações uma atrás da outra . D. Isabel apareceu com mais uma tesoura.
- Outra? Já são três! Não seria por falta de tesoura que nosso bebe deixará de nascer.
D. Isabel que entrava e saía nervosamente do quarto perguntou se eu precisava de mais alguma coisa.
- Preciso de um cordão bem forte.
Sandra entendeu que seria para cortar o cordão umbilical e disse que havia fio dental no banheiro. Fui busca-lo e D. Isabel também trouxe um rolo de fio de crochê, depois saiu do quarto dizendo que era uma hora muito íntima.
E era.
10:15 hs
Começa o parto.
Sandra tem uma contração forte de expulsão. A cama estava forrada com o plastico e eu tinha algumas toalhas à mão. Ia tudo correr bem pois Sandra já tinha tido dois partos excelentes. Ela teve mais uma contração forte e a cabeça do bebe corôou, apareceu.
- É agora, força que na próxima ele nasce.
10:30 hs
Nasceu.
Nasceu na segunda. Puxei a cabeça, delivrei os ombros, segurei-o nas mãos e sorri para Sandra.
- É o Klaus!
Com a boca aspirei-o pelo nariz algumas vezes para limpar as vias respiratória, ele então chorou com sua primeira respiração. Antes de cortar o cordão entreguei-o a Sandra e Klaus ficou um pouco no colo dela. D. Isabel, que estava do lado de fora do quarto, ouviu o choro e entrou.
Com o fio de croché dei dois nós no cordão e com o fio dental fiz um corte entre os dois.
Sandra pediu que eu desse Klaus para D. Isabel segurar, ele estava muito limpo só com um pouco do muco na cabeça.
Fui então buscar a filmadora e acender um cigarro.
Estava tudo bem, tinha sido muito rápido, perfeito, e eu tinha realizado o sonho de fazer o parto de um filho. E tinha sido em casa, em nosso próprio quarto, em Sintra.
Sandra sorria e conversava com D. Isabel que estava encantada.
- Que mulher forte, nunca vi coisa tão linda.
Eu também estava muito orgulhoso de minha mulher, feliz por meu filho e por aquele momento em um lugar tão lindo.
10:45 hs
Estava na hora de delivrar a placenta. Sandra sorrindo de felicidade, mas muito cansada, mudou de posição na cama. Fiz algumas manobras e a placenta começou a sair. Finalmente ela se soltou, examinei-a e guardei-a num saco plastico.
Sandra lembrou-me de usar o Betadine, fui busca-lo, enchi o aplicador e utilizei bastante para desinfectar. Era o primeiro parto que eu fazia em que a paciente colaborava , ajudava e ainda orientava.
Como a cama estava bastante molhada Sandra levantou-se e fomos todos para o quarto das meninas.
Klaus que estava no colo de D. Isabel voltou para o de Sandra. Estavamos tão felizes que só conseguiamos rir da situação. D. Isabel continuava encantada com Sandra.
- Que mulher! Assim é que tem que ser.
Ficamos todos sentados nas camas das meninas conversando felizes sobre tudo aquilo que acabara de acontecer.
Escolhi um CD de Bach e coloquei para tocar Jesus Alegria do Homens, a musica que encheu nossa casa era a mesma que tocara em nosso casamento. Depois coloquei a ària da suite numero 2 em Si Menor também de Bach, que combinava com o momento e com a calma do bosque que nos rodeava.
11:00 hs
Já estava na hora de ir chamar as meninas para conhecer o irmãozinho.
D. Isabel foi busca-las e como Sandra já tinha leite Klaus mamou pela primeira vez. Isso era ótimo pois êle já começava a se alimentar e o útero de Sandra a se contrair.
Quando as meninas chegaram êle já tinha mamado. Vahine, que tinha quatro anos, chegou muito excitada querendo conhecer o mano, já a Taanit, com dois anos, não percebia muito o que estava acontecendo.
Vahine comentou que Klaus tinha os olhos fechados e quando Taanit o viu deu um grito:
- O bébé !!
O grito assustou Klaus que abriu os olhos, os arregalou e a partir dái ficou sempre de olhos abertos. Ela acabara de entrar no clima das manas. Ficamos todos juntos curtindo nosso recém chegado.
Agora éramos cinco.
12:00 hs
Depois de Sandra descansar um pouco fomos à maternidade de Cascais para fazer exames nela, em Klaus e na placenta. Quando chegamos todos ficaram espantadíssimos e as enfermeiras perguntaram:
- Mas a senhora está de pé?
- E como queriam que eu estivesse?
Sandra foi examinada, foi feita uma ultrasonografia, estava tudo bem, não havia restos de placenta e o utero estava perfeito.
No Klaus foram feitos os exames de sangue e estava tudo ótimo. Mas como o corte do cordão tinha sido feito com uma tesoura não muito esterilizada eu estava preocupado com tetáno e infecções. A pediatra que nos atendia, simpaticíssima, entendeu nossa preocupação e deu uma atenção especial ao Klaus.
Tínhamos entrado na maternidade, pai, mãe e filho com uma placenta na mão pela porta da frente. Enquanto isso víamos outras mulheres, chorando e reclamando. Aquilo não tinha nada a ver conosco afinal Sandra estava ali, de pé e tranquila.
17:00 hs
Concordamos, a contragosto, com a pediatra, que seria melhor para o Klaus dormir aquela primeira noite no berçario da maternidade. Seriam feitos mais exames e ele estaria em segurança caso surgisse qualquer problema. Seria chato voltarmos para casa sem ele, afinal tínhamos feito tudo tão bem e não podíamos tê-lo naquela primeira noite.
Mas aceitamos que seria o melhor para ele e para nós. Ele ficaria em observação e Sandra poderia descansar em casa. De qualquer maneira retornaríamos à maternidade às 21:00 hs e às 24:00 hs para que êle mamasse.
19:00 hs
Saímos meio tristes da maternidade sem nosso bebe.
Mas como faltava algum tempo para retornarmos, aproveitamos para ir ao supermercado e à farmacia comprar fraldas e outras coisas para Klaus e Sandra que continuava de pé, agora andando e fazendo compras. Depois fomos para casa para vermos as meninas.
Fiz uma macarronada, jantamos, pusemos as meninas para dormir e voltamos à maternidade para a mamada das 21:00 hs.
Os exames de Klaus estavam ótimos, ficamos um tempão curtindo nosso bebe. Depois saímos, fomos dar uma volta em Cascais e tomamos sorvete.
Retornamos para a mamada da meia-noite ficamos mais um tempo no berçário e depois fomos para casa dormir a noite de um dos melhores dias de nossas vidas.
02:00 hs
Chegamos em casa.
A lua estava quase cheia, o ar muito frio e as luzes do Castelo dos Mouros ainda acesas. Da cozinha o ar muito limpo deixava ver muito ao longe o Convento de Mafra. Mais perto o mar e os vinhedos de Colares.
O bosque que cerca nossa casa estava como sempre muito calmo e perfumado.
Começaram a soar os sinos da igreja da Vila de Sintra, e logo depois as badaladas, que tradicionalmente se repetem com um minuto de atraso, da torre da Quinta do Moraes.
As meninas dormiam e a roupa da cama do parto, que tínhamos deixado na lavadora/secadora, já estavam limpas e secas.
Fizemos nossa cama e dormimos felizes à espera de ver nascer o primeiro dia de nosso Klaus.