Tive uma gripe fortíssima que me gerou uma infecção urinária
com dores abdominais de crise renal. Um terror. Pedi a um amigo médico que me indicasse um
profissional,
– Nada disso vá agora
para o Hospital das Clínicas da USP.
Fui atendido em 10 minutos. Da recepção à triagem, da médica - por sinal
uma gata - à enfermagem fui atendido com muita gentileza e competência.
A médica, bonita, discretamente maquiada, sem perfumes, bem vestida e sorridente me passou uns exames e uma medicação de urgência que
foi administrada lá mesmo. Prescreveu uma medicação de suporte e pediu que
retornasse em uma semana para avaliação. A medicação poderia ser retirada no próprio hospital ou em qualquer estação do Metrô. Em menos de uma hora estava tudo resolvido.
Pode até ter sido um acaso estatístico, mas aconteceu. Um atendimento melhor que Portugal, Inglaterra ou Alemanha, onde já morei. Sampa faz muita diferença da balada ao hospital.
Pode até ter sido um acaso estatístico, mas aconteceu. Um atendimento melhor que Portugal, Inglaterra ou Alemanha, onde já morei. Sampa faz muita diferença da balada ao hospital.
Já avisei a vários amigos que se eu precisar ser atropelado
quero ser em São Paulo.
Estava na Av. Vergueiro em Vila Mariana quando vi um rapaz ser atropelado ao atravessar a avenida fora da faixa. Em menos de dois minutos já haviam chegado duas motocicletas da polícia.
Estava na Av. Vergueiro em Vila Mariana quando vi um rapaz ser atropelado ao atravessar a avenida fora da faixa. Em menos de dois minutos já haviam chegado duas motocicletas da polícia.
A primeira estacionou ao lado do rapaz protegendo-o. A
segunda parou bem antes dele, virou-se em posição de contramão voltada de
frente para o tráfego com os faróis, piscas e sirenes ligados. Um policial
protegia o rapaz, o outro desviava o fluxo do trânsito. Ambos de rádio na mão
fazendo comunicações.
Cinco minutos depois chegou uma primeira ambulância de resgate.
Logo depois chegou uma outra de algum serviço médico, provavelmente chamada por
alguém que assistiu ao acidente. Em seguida chegaram os bombeiros. Mais uns dois
minutos chegou um helicóptero da polícia que ficou sobrevoando parado bem em cima do
local do acidente. Logo depois chegou um segundo helicóptero de alguma estação
de televisão que ficou girando acima do local transmitindo ao vivo.
Um atropelo, duas motos, duas ambulâncias, dois helicópteros.
Um atropelo, duas motos, duas ambulâncias, dois helicópteros.
Voltando ao Hospital das Clínicas da USP para onde
certamente o rapaz aí de cima foi levado, afinal na entrada do Pronto Socorro
há uma placa de aviso: Prioridade para resgate, ambulância e helicópteros.
Uma semana depois daquela minha crise, como pediu a médica, eis-me lá de volta. Desta vez não fui atendido por ela, mas por um médico. O rapaz
era igualmente paulista, tipicamente gentil, com aquela formalidade educada dos
paulistanos.
– Bom dia senhor, sente-se por favor. O que se passa?
– Obrigado doutor, bom dia.
– Bom dia obrigado, fique à vontade.
Passei a contar-lhe rapidamente minha estória. Ouvindo-me
com atenção ele disse,
– Por favor, continue, e não se importe se enquanto lhe ouço que
eu procure seus dados no sistema. E voltou-se para a tela do PC em cima de sua
mesa.
– Obrigado doutor.
Enquanto ele localizava meus dados e resultados dos exames no
computador eu lhe disse que já havia passado por algo semelhante há muitos
anos atrás quando morava em Salvador.
Ele se volta de repente para mim. O rosto do rapaz se
iluminou. Sorriu, largou o teclado.
– Você é baiano?
– Não doutor. Sou carioca mas morei muito tempo em Salvador.
O senhor é baiano?
– Também não. Sou paulista, mas morei estes últimos dez anos
em Salvador.
Subitamente a postura do médico, seus modos e principalmente
seu jeito de falar mudaram completamente.
– Sinto uma saudade da porra de Salvador! 'Cê morava onde?
– Na Graça e você?
– No Costa Azul. Mas conheço a Graça, é um bairro da porra,
disse ele.
Já adotando um jeito meio cúmplice, meio relaxado ele
perguntou,
– E aê? Essa porra tá doendo muito?
– Pra caralho.
– Deixa comigo porra. Vou mudar a porra da medicação, pedir
mais umas porras duns exames e quero ver se a gente não acaba com essa sacana
dessa bactéria.
Para quem não tem intimidade com o baianês, “porra” na
Bahia é usada indiferentemente como sujeito, substantivo, adjetivo, predicado
de várias ordens, interjeições de vários tipos. Expressões de raiva, alegria,
espanto, prazer, admiração.
A palavrinha mágica é usada para substituir outras palavras,
nomes, situações, conceitos e lugares que você não se lembra, ou não quer nomear, no momento em que fala.
É usada tanto para iniciar como para terminar as frases. Como
indicativo de mudança de parágrafo, pausa, ponto final, dois pontos, ponto e vírgula, três
pontinhos, ponto de interrogação e principalmente vírgula. Sem essas vírgulas verbais
as frases ficam sem pontuação, ninguém vai entender.
Serve para tudo porra menos o sentido original. Até em Sampa.