Sua Alteza Sereníssima Prinz Felix zu Schwarzenberg, o elegante príncipe da Realpolitik, o Realismo Político.
Schwarzenberg foi um estadista austríaco, nascido na Bohemia, atual República Tcheca, que consolidou o Império Habsburgo como potência europeia após derrotar algumas das revoluções de 1848. Estas revoluções de caráter nacionalista, liberal e democrático incendiaram o continente europeu lutando contra governos autocráticos e absolutistas.
Os principais núcleos revolucionários estavam em Paris, Berlin, Nápoles, Budapeste e nas regiões tchecas. Foi a primeira onda de revoluções democráticas de âmbito mundial e marcou o nascimento dos nacionalismos poloneses, italianos, alemães, dinamarqueses, tchecos, húngaros, croatas e romenos.
O espírito revolucionário Quarente-Huitard embriagou a Europa.
O espírito revolucionário Quarente-Huitard embriagou a Europa.
Estas nacionalidades enfrentaram os regimes autocráticos que as dominavam exigindo reconhecimento, democracia e autonomia. O período ficou conhecido como a Primavera dos Povos.
O refinado aristocrata Schwarzenberg, noblesse oblige, nunca poderia apoia-las. Jamais.
O refinado aristocrata Schwarzenberg, noblesse oblige, nunca poderia apoia-las. Jamais.
De linhagem nobre, filho, irmão e sobrinho de príncipes e generais, o sofisticado Schwarzenberg iniciou sua carreira como diplomata e se tornou protegido de Metternich. O grande estadista Klemens Wenzel von Metternich que após as derrotas napoleônicas promoveu o fortalecimento do absolutismo na Europa.
Foi Metternich, supremamente maquiavélico no bom sentido, quem apoiou D. Miguel, irmão do imperador brasileiro D. Pedro I, a usurpar o trono da própria sobrinha D. Maria II iniciando uma guerra civil em Portugal. A disputa só teve fim quando D. Pedro I deixou o Brasil, desembarcou no Porto em defesa da filha, derrotou o irmão, colocou a filha no trono português e promulgou uma constituição liberal copiada da brasileira.
Muito articulado, elegante e tremendamente sedutor, Schwarzenberg durante sua temporada diplomática em Londres e Paris teve um tórrido affair com a belíssima aristocrata inglesa Jane Elizabeth Digby, a desejada Lady Ellenborough, conhecida nas cortes europeias como Jenny, a Aurora.
O escandaloso romance causou o divórcio de Jane que terminou sendo abandonada infeliz e grávida pelo vigoroso Schwarzenberg.
Mas Jane não fazia o tipo Sedotta e Abbandonata. Lady Ellenborough também ela não era nada fácil.
Teve quatro maridos e diversos amantes, entre eles o rei Ludwig I da Baviera, seu filho o rei Otto da Grécia, o barão da Bavária Karl von Vennigen, o conde da Grécia Spyridon Theotokis, alguns generais e membros da aristocracia européia. E mais alguns priminhos.
Sinceramente convertida ao muçulmanismo ela terminou seus alegres dias em Damasco casada com o Sheikh Medjuel el Mezrab, 20 anos mais novo que ela.
Voltando ao nosso bom Schwarzenberg.
Durante as revoluções de 1848 ele ajudou o marechal Josef Radetzky von Radetz a derrotar as forças rebeldes na Itália. Ajudou também seu cunhado Alfred I, príncipe de Windisch-Grätz a suprimir as revoluções de Praga e Viena.
Na sua amada Áustria o refinado Schwarzenberg liderou a aristocracia, retomou o poder, assegurou a transição imperial, forçando a abdicação de Ferdinand I para Franz Joseph I e restabeleceu a tranquilidade e a ordem no Império Habsburgo.
Competente e eficaz nosso encantador príncipe promulgou em 1849 uma nova constituição, absolutista, que fez do império austro-húngaro um estado centralizado e unitário que durou até o fim da Primeira Guerra Mundial. Schwarzenberg permaneceu no cargo de presidente-ministro das Relações Exteriores da Áustria até morrer prematuramente de enfarte aos 51 anos em Viena. Uma perda irreparável.
Apesar de seu enorme poder e importância política, fundamental na história européia, Schwarzenberg ficou mais conhecido por uma frase. Uma requintada, uma deliciosa pérola da diplomacia e da Realpolitik.
Durante o levante popular de 15 de Março de 1848, na Hungria contra a dinastia Habsburgo, ele pediu ajuda ao império russo para socorrer e defender a Áustria. A dinastia tinha perdido completamente o controle e o poder. Schwarzenberg e o imperador estavam à beira da mais completa e absoluta ruína.
Encurralado o pragmático príncipe apelou, desesperado, ao Império Russo.
Encurralado o pragmático príncipe apelou, desesperado, ao Império Russo.
O Czar Nicolau I, primo e amigo, prontamente lhe enviou o exército russo que dominou a revolução húngara, assegurando e restabelecendo o poder, a honra e o trono do imperador austríaco.
Depois de dominada a revolta, durante uma festa, o embaixador francês perguntou ao agradável príncipe Schwarzenberg como ele pretendia agradecer ao Czar Nicolau I.
Sua Alteza Sereníssima, entrando brilhantemente para a história da Diplomacia, respondeu solenemente:
- O Mundo se assombrará com a grandeza da ingratidão Austríaca.
E serenamente expulsou os russos de volta para casa.