Há coisas muito especiais nesta Terra Brasilis.
Ulrich, um alemão amigo de trabalho, tinha chegado da Alemanha, tínhamos trabalhado a semana inteira e já estava quase no dia dele voltar para Frankfurt. Como era fim de semana, o dia estava lindo, quente e ensolarado, resolvemos aproveitar para ir à praia em Piatã, Salvador.
Ficamos em uma daquelas barracas de praia onde se vai mais para beber e comer do que para tomar banho de mar.
Tanto quanto eu gosto da Alemanha o Ulrich gosta do Brasil, fator importante em nossa amizade. Ele vinha frequentemente aqui. Sempre que chegava, brincando fingia que se espantava,
Tanto quanto eu gosto da Alemanha o Ulrich gosta do Brasil, fator importante em nossa amizade. Ele vinha frequentemente aqui. Sempre que chegava, brincando fingia que se espantava,
- Cada vez que venho ao Brasil há mais louras. Já existem mais louras em São Paulo do que em Munique.
Ulrich era muito bem humorado, o tipo de alemão alegre e falastrão que associamos com as cervejarias da Baviera.
Estávamos em Piatã tomando esta coisa que aqui chamamos de cerveja e que Ulrich educadamente fingia acreditar que fosse. Geladíssima acompanhada por peixes, caranguejos, camarões, acarajés e abarás. Fazendo aquela farra gastronômica bahiana que o diabo criou e que Nosso Senhor do Bomfim abençoou.
Conversa vai conversa vem, noto que havia na areia um grupo de meninas bonitas perto de nós. Eram pelo menos umas dez e pela "branquelice" seguramente eram turistas. O que mais chamou minha atenção foi que elas estavam falando alemão. Alternavam alemão e português com sotaque gaúcho.
Como já tínhamos conversado muito sobre imigração e influência alemã no Brasil aquilo era perfeito para ilustrar nossas conversas. Chamei sua atenção,
- Ulrich, estás vendo aquelas meninas bonitas aqui à nossa esquerda? São brasileiras mas estão falando em alemão.
Ele olhou para elas prestando atenção no que conversavam,
- Isso não é Alemão.
- Claro que é preste atenção.
- Você não vai querer me ensinar o que é Alemão, vai?
- Claro que não, mas se esforce e ouça melhor.
Subitamente seu rosto se iluminou,
- Ja, fantastisch, wunderbar! Parece um dialeto antigo.
Ulrich se levantou, foi direto para o grupo das meninas, puxou conversa em alemão. Fui atrás, eram turistas gaúchas de férias em Salvador. Agora estavam todos conversando alegremente, ele em alemão, elas num dialeto alemão. Na areia, entre acarajés, cocadas e bikinis, na Bahia.
Ulrich estava encantado de encontrar brasileiros, meninas bonitas brasileiras, falando um dialeto alemão raro. Elas contaram que o dialeto era o Hunsrückisch, que elas tinham aprendido em casa, mas que só falavam entre si. Contaram que se esforçavam para continuar a fala-lo para não deixar morrer uma herança dos avós que tinham vindo da Alemanha.
Ulrich voltou feliz para Frankfurt conhecendo melhor a língua Alemã. O Brasil, como diz meu amigo Paulo Cunha é um país especial.