Taanit

Entre nossa casa em Tylers Green e a escola das crianças havia um bosque.
Há duas maneiras de se chegar à Tylers Green First School, ou pela rua e pelas calçadas ou atravessando um bosque.

Pela rua e de carro é muito rápido, não leva mais que dois minutos. Nem vale a pena tirar o carro da garagem. Pelas calçadas é muito seguro, agradável, as crianças da vizinhança são sempre vistas de mãos dadas fazendo o percurso. Atravessando as ruas pelas passadeiras.
Os motoristas estão sempre atentos afinal são os próprios filhos ou filhos de amigos e vizinhos.
É quase um passeio, de tão agradável, ir caminhando por essas calçadas, olhando as casas, vendo os jardins, observando aquele verde único, respirando o ar puro do campo inglês.
Apesar de estarmos a apenas 18 milhas do Hyde Park de Londres, o Buckinghamshire e as colinas Chilterns são puro countryside.

Ir para a escola pelas trilhas do bosque é mais é muito mais agradável. As árvores são altas e espaçadas deixando passar muita luz, mas ainda assim protegendo da chuva fina se houver. É pelo bosque, onde sempre há mais movimento, que todos preferem caminhar para ir à escola, ao pub, à loja de bebidas, ao mercadinho.
Tylers Green é muito especial.
Nesta parte do bairro só há calçadas de um lado da rua, para deixar mais espaço para os jardins abertos das casas que não têm cercas entre elas. Praticamente não há iluminação pública, exigência dos residentes, para deixar as noites mais bonitas. As placas de sinalização e trafego têm um tamanho mínimo para não interferir na paisagem.
Em alguns pontos da estrada, que vem de Londres passando por Beaconsfield serpenteando as Chilterns, à partir de Penn, há passagens não apenas para pedestres mas também para patos. Os patos se acostumaram e os motoristas ficam atentos. É comum ver o trânsito parado para a passagem de uma pata e seus patinhos cruzando o campo, atravessando a estrada.

Minha filhota Taanit, sempre muito doce e meiga, tem cinco anos. Todas as manhãs põe seu uniforme, pega a mochila, o lanche, o guarda-chuva colorido e vai para a escola. Ora pela calçada com os amiguinhos, ora sozinha, atravessando o bosque.
Às vezes a acompanho na ida, às vezes vou busca-la na volta.
Numa dessas vezes em que fui busca-la vínhamos caminhando pelo bosque. Desfrutando as árvores, as folhas no chão, os esquilos, os pássaros, os galhos balançando suavemente. Cumprimentando e brincando com outras crianças, com os pais, que também voltavam para casa.

Subitamente sinto que ela se distanciou, olho para trás. Ela está caminhando à uns seis metros de mim. Quando a olho ela abre um sorriso imenso. Então lhe pergunto,
- Que sorriso lindo, algo especial, o que houve? Você parece estar muito feliz.
Ela responde com um brilho no olhar,
- Eu sou feliz papai!