Honra e Dever

O senso de Honra e Dever é algo muito semelhante a japoneses e alemães. Tenho um amigo alemão, Jochen Nevries, notário em Görlitz, Sachsen.
Quando era advogado, seu escritório havia quebrado. Jochen foi a um banco explicou ao gerente que iria fazer concurso para ser notário. Além das provas de capacidade jurídica era necessário provar ter recursos para instalar a estrutura necessária do cartório. Jochen levantou um empréstimo, vinculou a quantia.
Me explicou que naquele momento crítico da vida essa era fora sua única saída. Falido ele jogara tudo no concurso.
– E caso você não passasse? Prussianamente ele respondeu,
– Me mataria.

Este senso prussiano de sacrifício é culturalmente semelhante ao do Harakiri japonês. A morte é preferível à desonra. Suicídio não é fraqueza é ritual da Honra.
Da mesma forma a vida é associada à dignidade do Dever. Quando um piloto japonês Kamikaze, o Vento Divino, subia em seu Mitsubishi Ki-15 para realizar sua última e definitiva missão ele o fazia pela honra, pelo dever de servir à Pátria e ao Imperador.
Antes da decolagem eles punham na testa uma fita Hachimaki, com o sol nascente. Na cintura colocavam o Senninbari, um cinto de mil pontos costuradas por milhares de mulheres que fizeram um ponto cada uma. Compunham e liam um poema como os samurais antes de cometer o Seppuku.
Recebiam condecorações militares. Embarcavam com uniforme de gala e com a Katana.

O pai de Jochen foi piloto especial de Stukas.
Os pilotos eram escolhidos entre a elite da Luftwaffe, a força aérea alemã. Estes Stukas - Sturzkampfflugzeug, bombardeiro de mergulho - eram Junkers Ju 87 adaptados com um motor superpotente para uma missão especial.
Identificado o alvo o piloto mergulhava, de alta altitude, com toda a potência aberta. Próximo ao alvo ele soltava a carga, puxava o manche inteiramente, injetava ainda mais potência e subia quase na vertical.

Esta súbita mudança de descida vertiginosa para subida imediata submetia o corpo e a coluna do piloto à pressões imensas. Em geral esta carga sobre a os órgãos e a coluna lesava os pilotos.
As duas súbitas mudanças de pressão atmosférica, na descida e na subida, com a consequente falta de sangue no cérebro desmaiava alguns pilotos. Alguns morriam durante a manobra radical.
A Luftwaffe só permitia no máximo duas dessas missões. O pai de Jochen fêz três.
Na última, ao pousar, Herr Nevries foi retirado do cockpit numa cadeira de rodas de onde nunca mais saiu.

Ouvindo essa estória um amigo baiano me disse no mais puro e destilado baianês,
– Pôrrééssa bróder, vássifudê, que história mais bôca de zero-nove, deus-é-mais!