Tive um amigo alemão, Jochen Nevries, meu vizinho em Görlitz, Sachsen.
Ao contrário do estereótipo, furadíssimo por sinal, Nevries é
um alemão alegre, simpático, muito aberto. Casado com Brigita, também muito educada,
ela falava alemão tão suavemente que lhe perguntei por que ela preferia falar
francês ao invés da própria língua.
Com eles conheci melhor os alemães, terminei de me desfazer de dois
estereótipos.
O primeiro, fruto da Segunda Guerra, alimentado mundo afora, associa todos os alemães ao comportamento dos nazistas. Natural que a versão da história
seja contada pelos vencedores. Vae Victis.
O segundo criado pelos próprios alemães que imigraram para o Brasil. A maior parte deles chegou aqui empobrecida, algumas levas deles vieram para substituir o trabalho escravo após a Abolição. Procurando se distinguir dos
negros e depois, ao longo do tempo, de outros imigrantes eles criaram esta imagem de duros, secos, formais.
Exageraram e criaram uma caricatura.
No enorme porão da casa do Jochen, sim eu já o chamava pelo
primeiro nome, havia um bar. Construído exatamente como um pub alemão
tradicional ele o batizou de “Kanzlei”. Na “Chancelaria” ele recebia os amigos
todos os dias para uma happy-hour antes de irmos todos para casa. Cáustico ele brincava,
- Só não incendeiem.
- Só não incendeiem.
Lá aprendi a tomar cerveja. Em canecas de um litro Jochen
levava alguns minutos para enchê-las. Em pé, de avental, atrás do balcão de onde nos servia ele injetava a cerveja sob pressão, esperava a espuma
baixar e continuava injetando mais algumas vezes até completar. O ritual que
levava exatos sete minutos criava uma situação interessante. Ao entregar uma
caneca ele já perguntava se o amigo iria querer outra.
Jochen me ensinou que cerveja não é bom apenas para matar a
sede, para alegrar o espírito, para reunir os amigos. Na banheira, além das torneiras de água, é sempre bom instalar uma torneira de pressão de cerveja. Desintoxica o corpo,
faz bem à pele e ainda se pode tomar umas canecas durante o banho.