Maria

Maria é uma faxineira, uma cleaner, une femme de ménage, uma diarista.
Uma mulher-a-dias, como preferem os portugueses, que trabalha onde moro. Jovem na faixa dos 30 anos, tem dois filhos. Incansável ela faz faxina o dia inteiro, todos os dias.

Maria apesar de baiana não tem nem o tipo físico nem étnico das baianas de Salvador. Sendo do interior ela tem o tipo sertanejo. Não é bonita nem feia de rosto, mas tem um corpo literalmente escultural, um assombro, um pecado ambulante.
Branca, alta, magra, pernas longas e torneadas, ela tem aqueles excessos brasileiros em alguns lugares e uma cintura de pilão como preferia o Luiz Gonzaga. Uma mulher, um banquete para duzentos talheres. Um jeito humilde, quase infantil. Rosto de menina sapeca, um sorriso largo e permanente. Um andar  suavemente provocador. 

Extremamente alegre Maria leva a vida com prazer, na brincadeira como ela mesma diz. Uma vida duríssima por sinal. Trabalha 9 horas por dia fazendo faxinas e depois de tudo ainda lava e passa roupa fazendo um extra em casa. Depois de tudo ela ainda tem de cuidar da própria casa, fazendo tudo isso novamente. Cozinha, faz compras, cuida do marido e dos filhos.
Maria faz tudo isso numa alegria contagiante, ofensiva, inaceitável, incompreensível.

Maria apesar dos 30 e poucos anos é casada com um homem de 63.
Hoje lhe perguntei como ela consegue aguentar uma vida tão dura, se manter tão alegre e feliz, ter tanta vitalidade. Ela riu aquele sorriso maravilhoso e explicou a fórmula:
- Meu marido me procura todo dia. De manhã e de noite.
Maria desempenha alegremente os três turnos. Aja alegria.