Holandeses

O aeroporto Schiphol de Amsterdam tem algo interessante, típico da criatividade, da irreverencia holandesa, que funciona e muito bem. Holandês é essencialmente um animal prático.

Os banheiros masculinos do Schiphol têm mictórios que viraram atração, case de design, imitados. Branco, de cerâmica, de formato igualzinho a um mictório masculino comum, presos na parede da mesma forma, aparentemente sem nada de especial. A não ser por um pequeno, mínimo detalhe. Na bacia branca fica pintada na parte mais baixa, no lado esquerdo, uma pequena mosca preta.

Resultado. O usuário dirige o jato de urina sobre ela, tentando tirá-la dali. A mosca naturalmente permanece onde está. Diverte quem usa e faz o jato ser eficazmente direcionado diminuindo a sujeira natural deste tipo de lugar. Mais higiene, menos interrupções para limpeza, menos custos.
Funciona tão bem que quando a administração do Schiphol venceu uma concorrência de reforma no aeroporto de Nova Iorque os americanos pediram mictórios iguais, com mosquinha e tudo. A ideia já foi muito imitada e eu já vi em Lisboa uma pequena trave de futebol com uma bolinha pendurada, dentro do mictório desafiando a pontaria de quem usa.

Outra ideia fantástica é um painel enorme de vídeo que fica na Centraal Station, a estação central de trens da cidade. Além do bicicletário assustadoramente grande do lado de fora a estação há algo divertido do lado de dentro. Abre parênteses.
Aquelas milhares de bicicletas são na virtual totalidade todas pretas e do mesmo modelo. Sempre me intrigou como os donos fazem para reconhece-las, para acha-las naquele mar de rodas. Depois me explicaram que são elas que reconhecem os donos. Fecha parênteses.

Voltando ao enorme painel de vídeo dentro da Centraal.
Há poucas coisas mais chatas do que ficar parado numa plataforma de trem ou de metrô esperando o vagão chegar, olhando para a parede em frente que tem no máximo alguns anúncios que você já está cansado de ler. Então surgiu uma ideia divertida.
No painel passa ininterruptamente a seguinte cena: um close enorme no rosto de uma pessoa embaixo de um chuveiro.
A pessoa não usa as mãos, só se vê o rosto e a água descendo do chuveiro. A água escorre pelo rosto da pessoa que pisca um olho, pisca o outro, fecha os olhos, olha para baixo, olha para cima, se incomoda, sopra, fecha e abre a boca. A água não para de jorrar do chuveiro. O vídeo é exibido em loop, não para nunca. É impossível deixar de olhar. 
As pessoas acabam ficando quietas na mesma posição, o que aumenta a capacidade da plataforma, e não se estressam com a espera.

Você não se distrai com outras coisas. A não ser que a Famke Janssen apareça inesperadamente. Mas aí já é caso de chamar uma ambulância, um cardiologista.