Tiborna

Tiborna pode ser um doce, um bacalhau, uma maneira de comer o pão. Tiborna também é um ritual português. O doce é de Nova Viçosa, o bacalhau do Entre-Douro-e-Minho, a maneira de comer o pão do Alentejo e Olivença. O ritual, alentejano.

No início da colheita das oliveiras, entre Outubro e Janeiro, é tirado o melhore azeite feito de azeitonas prensadas a frio. Até hoje a tradição da Tiborna permanece lembrando um antigo ritual quando os lagareiros no fim do dia se juntavam em volta da mesa com a família e os amigos.
Celebrando o azeite recém extraído se assava o pão. Saído do forno ele é partido aos pedaços e mergulhado no azeite novo. Tempera-se com alho, flor de sal ou com açúcar e canela. Acompanha-se com um tinto, naturalmente da região, dali mesmo do Alentejo.
Ora um gole, ora o pão, o tempo passa, o vinho alegra, o pão e o azeite alimentam. Chega a saudade dos que precisaram deixar a terrinha. Chega o fado.

Tive bons amigos alentejanos, gente simples, hospitaleira, festeira.
Quando não queríamos nos dar ao trabalho de acender o lume para assar umas febras, deixávamos o porco para outro dia. Abríamos uma garrafa de azeite, picávamos uns alhos, deitávamos tudo numa terrina. Noutra eu ajuntava ao azeite uns orégãos, às vezes uns coentros, um pouco de sal e pimenta preta ralada. Às vezes havia também uns queijos d’Évora, às vezes uns Saloios regionais. Mas o importante mesmo era o azeite novo, a tiborna.

- Então pá, vamos aos copos? E abríamos um vinho.
- Então pá, venha de lá esta tiborna. E vinha o azeite e o pão que mergulhávamos nele.
Tomávamos uns golos, metíamos conversa até as horas. Um ritual difícil de parar. Mais vinho, mais azeite, mais fados.
Dividíamos o pão e o vinho. Uma santa ceia.