Eu comentava com o Léo Falcão o absurdo do Projeto Novo Recife que pretende fazer uma intervenção urbana no Cais José Estelita.
O projeto prevê a construção de cerca de 12 torres habitacionais, de quase 40 andares cada, numa área enorme de mais de 100 mil metros quadrados à beira do rio Capibaribe.
O PNR é por qualquer ótica irracional, ideologias à parte.
Fazendo um raciocínio absolutamente amoral, sem ética alguma, apenas econômico: todo dinheiro gerado, seja da droga, da corrupção, de qualquer crime movimenta a Economia, cria riqueza, emprego e renda, pois idealmente continua circulando dentro de um sistema fechado.
Há variações mínimas do dinheiro do crime aplicado no mercado interno devido a remessas para o exterior. Elas são muito menores que as remetidas pelas transnacionais e mesmo a parcela que é remetida ilegalmente para o exterior acaba retornando devidamente washed.
Em termos estritamente econômicos o crime não apenas compensa como também é saudável para a economia por sua agilidade e informalidade financeira. O livre mercado se exerce magnificamente no crime organizado, mas isso já é outra história.
No caso do PNR analisando o único argumento razoável que justificaria o empreendimento - por gerar riqueza, emprego e renda - ele se sustenta apenas no modelo acima.
Mas mesmo e ainda assim o PNR não se justifica.
Os custos ambientais no longo prazo, os custos distribuídos de aumento de consumo de combustível per capita, as horas produtivas dispendidas em engarrafamentos, o aumento do consumo de eletricidade na cidade para manter a refrigeração necessária pelo aumento da temperatura criada pela barreira de concreto, todos estes custos ultrapassam em muito a riqueza, a renda e o emprego gerados pelo empreendimento.
Não deve ser difícil fazer esta conta.
Detalhe: esta conta será rateada democraticamente pelos contribuintes.
Pior: a situação leva, a longo prazo, a um aumento das despesas do município sem uma receita comparável o que significará uma piora nos serviços prestados a todos os contribuintes.
Resumo: é ele o contribuinte quem vai pagar a conta no longo prazo. Tanto financeiramente quanto em qualidade de vida.
Novamente: a riqueza gerada no curto prazo pelo empreendimento não justifica os prejuízos no médio e longo prazo. Nem mesmo para os empreendedores que se tornarão passíveis de processos legais.
OK, o terreno tem dono. Foi comprado legalmente. O dono faz o que quiser.
Será?
Nem tudo que é legal é legítimo. O leilão levou em consideração o futuro uso de um bem destas proporções?
O dono faz o que quiser com o que é seu.
Você faz o que quer com o controle remoto de sua televisão?
OK, o terreno tem dono. Foi comprado legalmente. O dono faz o que quiser.
Será?
Nem tudo que é legal é legítimo. O leilão levou em consideração o futuro uso de um bem destas proporções?
O dono faz o que quiser com o que é seu.
Você faz o que quer com o controle remoto de sua televisão?
Às vezes as soluções mais simples e óbvias estão tão perto do nariz que não as vemos.
O Tube por exemplo. O Underground, o metrô de Londres.
Ele tem mais de um século, quando começou era movido por trens à vapor queimando lenha!
A grande importância histórica do tube é que ele foi usado como elemento fundamental na expansão de Londres. Quando se detectava uma necessidade habitacional as linhas do tube eram estendidas numa determinada direção.
Isso é hoje divulgado com orgulho pela London Underground que se sente parte do planejamento sustentado de Londres. Há mais de cem anos.
Os estate developers e building contractors naturalmente participavam do planejamento e novos bairros eram planejados, construídos e ocupados.
Todo mundo ganhava dinheiro, muito dinheiro, sem criar um caos urbano.
Recife tem uma saída óbvia e fácil que é a rodovia 232.
Ela poderia ser ocupada nas duas margens por condomínios horizontais com ótima qualidade de vida, e servidos por um trem metropolitano rápido de superfície. As construtoras ganhariam muito mais do que com apenas uma dezena de prédios. Há soluções capitalistas, sustentáveis e racionais.
Ela poderia ser ocupada nas duas margens por condomínios horizontais com ótima qualidade de vida, e servidos por um trem metropolitano rápido de superfície. As construtoras ganhariam muito mais do que com apenas uma dezena de prédios. Há soluções capitalistas, sustentáveis e racionais.
Recife está perigosamente atingindo um ponto de não retorno urbanístico que não pode nem deve ser tolerado por quem ama (*) a cidade e por quem quer continuar gerando riqueza nela.
Dentro do livre mercado, mas com um mínimo de racionalidade e visão de longo prazo.
Hello Adam, cadê a mão invisível para dar umas palmadas nestes aprendizes?
(*) ou gosta, ou curte, ou convive, ou suporta, ou tem tesão, sei lá, relacionamentos são complicados.
Hello Adam, cadê a mão invisível para dar umas palmadas nestes aprendizes?
(*) ou gosta, ou curte, ou convive, ou suporta, ou tem tesão, sei lá, relacionamentos são complicados.