Sempre perco o amigo, mas não perco a piada.
Humor é necessariamente, psicanaliticamente, desrepressor. Não existe humor a favor, todo humor é contra. Todo humor é politicamente incorreto, se não, não tem graça. Isso é de uma obviedade que só não é ululante por que o Nelson não anda mais por aqui.
Claro que o supra-sumo do humor, seu melhor e mais perfeito destilado não é sequer o humor-negro inglês, é sem dúvida o auto-depreciativo judaico e o sarcástico alemão.
Melhor ainda a sublime mistura dos dois. Destas duas raças tão próximas. Não brinco, pense se existe algo mais próximo de um alemão que um judeu. Estão sempre juntos para o bem e para o mal, inventando desde uma língua até processos industriais especiais.
Bem, tudo isso para dizer que nunca me diverti tanto quanto morei na Alemanha. Depois de ganhar intimidade com amigos e colegas ouvi as mais terríveis e impensáveis piadas de judeu, polonês, nazistas, comunistas e naturalmente as auto-depreciativas de alemães.
Algumas delas dói só de pensar e não sou nem louco de publicá-las aqui. Mas há uma delas que é real, essa posso contar, já que é pessoal.
Minha mãe morreu em minha casa na Alemanha. Sem conhecer bem os procedimentos legais e práticos pedi ajuda a um amigo e colega de trabalho.
- Horst minha mãe morreu e preciso tomar as providências.
- Você prefere cremar ou enterrar? Cremar é mais simples e mais barato.
- Vou preferir cremar, afinal vocês tem uma larga experiência.
- Somos ótimos nisso. A propósito Ivan, você faz questão de guardar as cinzas?
- Por quê?
- Por se não quiser guardá-las, você poderá economizar bastante. A cidade tem um excelente sistema waste-to-energy.
- É verdade. Basta comprar um saco marrom.
Nos abraçamos de tanto rir, quase caímos no chão. Nossa secretaria apareceu para ver o que estava acontecendo na sala.