Economias Quebradas

Todos os olhos dos outros países europeus estavam alertas. A situação estava cada vez mais crítica para o governo. As manifestações estavam levando milhares de pessoas às ruas para protestar contra o governo. A situação das finanças era caótica.

O governo vinha constantemente mascarando os índices econômicos e refinanciando crescentemente a dívida nacional.Os empréstimos eram cada vez maiores e mal serviam para cobrir o pagamento dos juros de empréstimos anteriores. Durante uma reunião de gabinete o ministro do Planejamento resolveu mostrar os números reais da economia. A maioria dos outros ministros desconhecia a verdadeira situação. Assim como a população eles estavam completamente alheios ao tamanho do rombo financeiro.

À medida que o ministro apresentava os números o restante do gabinete entrava em estado de choque.
Meses atrás ele havia advertido o primeiro ministro para encarar os fatos,
- Ou vamos nos tornar insolventes.
O primeiro ministro havia lhe respondido que ainda não era a hora certa de divulgar os fatos e que ele permanecesse calado. Mas agora não havia como esperar mais. O primeiro ministro havia caído. O país estava insolvente, à beira do caos.Ele continuou mostrando os fatos.
- Quase 60% da base industrial está obsoleta. A produtividade nas fábricas está 50% abaixo do resto da Europa.
A divida com os bancos havia aumentado 12 vezes nos últimos 15 anos. Já estava na casa dos 123 bilhões e crescia mais10 bilhões anualmente .
- Um valor extraordinário para um país como o nosso.

O gabinete estava atônito. O ministro continuou explicando que fraudes foram necessárias a fim de ocultar os fatos dos bancos e dos outros governos europeus. Mostrou que os empréstimos de curto prazo estavam sendo obtidos apenas para pagar os juros dos créditos de longo prazo.
O Estado vinha constantemente mentindo a respeito de seus ativos, pois se os mercados financeiros soubessem da real situação os empréstimos seriam suspensos.
- Vamos ter de tomar medidas de austeridade que vão baixar o padrão de vida da população entre 25% a 30% . Teríamos que ter feito ajustes na dívida há cinco anos atrás.
Só os juros da dívida representavam dois terços da balança cambial.
E concluiu,
- Não temos como pagar os juros que vencem nas próximas semanas. Precisamos de 2 a 3 bilhões no curto prazo, além dos limites atuais. Se não conseguirmos levantar esta quantia poderá haver um confronto prejudicial com o Fundo Monetário Internacional.

Não se trata de uma reunião ministerial do governo da Grécia, nem de Portugal, nem da Espanha. O ministro não falava em Atenas, Lisboa ou Madri. O ministro que falava era Gerhard Schurer na terça-feira 31 de Outubro de 1989 em Berlim Oriental. A Republica Democrática Alemã, a Alemanha Oriental, estava economicamente falida.
Nove dias depois, à meia-noite e quinze minutos, um grupo de jovens orientais se juntou a um grupo de jovens ocidentais no Portão de Brandenburgo, subiram no Muro e dançaram. Os grepos – guardas da fronteira – apontaram uma mangueira. Um dos jovens abriu um guarda-chuva.
Caía o Muro de Berlim.

A economia tinha desmoronado muito antes. Não há movimento revolucionário mais poderoso que uma conta bancária vazia.