Meus Vestidos Preferidos

São cinco os meus vestidos preferidos, meus Top Five. Claro que absolutamente hors concours é o primeiro deles, aquele verdinho básico que Eva estreou no Mundo quando mudou de residência. Mas isso já é uma outra história.

Pessoalmente não ligo a mínima para o que visto. Com exceção da minha sagrada coleção de gravatas Hermès, me bastam um jeans e uma pólo. Mas adoro vestidos, estas armas letais de Eva.
Não acho em absoluto que a moda feminina seja uma frivolidade. Concordo inteiramente com a personagem de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada quando ela diz que o mundo da moda, a produção dos tecidos e etc. geram os empregos que colocam países do terceiro mundo na estrada do desenvolvimento. Nem tudo é vaidade mano Eclesiastes.
E afinal nem só o Diabo veste Prada. O papa Bento XVI, sua contrapartida terrena, só calça Pradas. Ironicamente vermelhos.
A Revolução Industrial que mudou a face econômica e social do planeta, consolidou o Capitalismo, criou o Proletariado e gestou o Feminismo ao colocar a mulher no mercado de trabalho, se iniciou na indústria têxtil. Fabrica vem de fabric, tecido em inglês.

Meu primeiro vestido na verdade nem é um vestido, é um tapete. Aquele tapete em que Elizabeth Taylor no papel de Cleópatra no filme do Mankiewicz, veio enrolada de presente para Marco Antônio.
A cena do tapete se desenrolando no chão e ao final surgindo dele a rainha do Egito nua é de incendiar a cabeça de qualquer adolescente. Como incendiou a minha. Mesmo sendo um tapete ele é a essência do vestido perfeito. Esconde, promete, oferece e entrega.
Apesar de louco por Cinema me recuso assistir Cleópatra novamente. Não vou me permitir destroçar com um choque de realidade um fantasia juvenil. Ponto.

O segundo vestido é a criação de Mainboucher para o casamento de Wallis Simpson com o Duque de Windsor. O casamento por si só foi um acontecimento que abalou a realeza britânica, provocou uma crise constitucional e é provavelmente o maior escândalo do século XX. Um homem que abdicou de ser Rei da Inglaterra para se casar com uma americana, plebeia e divorciada. E isso em 1937.
O vestido do casamento, um longo com casaquinho de mangas compridas era discreto, contido, quase austero. Uma peça azul de glamour, mas de um azul especial. O Azul Wallis criado para combinar com os olhos dela.

O terceiro é aquele Travilla frente única que Marilyn Monroe estava inocentemente usando n'O Pecado Mora Ao Lado do Billy Wilder na calçada que tinha uma grelha de ventilação do metrô. Quem não se lembra dessa cena ou acabou de chegar de Marte ou é melhor ir para lá.
Marte não. É de Vênus que se trata quando ela usou aquele vestido super colante, sem nada por baixo, na festa de aniversário dos 45 de John Kennedy. Ela sem piedade sussurrou,
- Happy Birthday to you Mister President.
Depois de ouvi-la cantar os parabéns JFK disse atordoado,
- Agora já posso me aposentar.
Na verdade o que todo mundo queria mesmo saber era o que MM usava na cama para dormir.
- Três gotinhas de Chanel no 5.

O quarto vestido é sem dúvida nenhuma o primeiro, o principal o eterno. Aquele pretinho básico que toda mulher tem, precisa, merece. Aquele que Givenchy fez para Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo do Blake Edwards. Uma obra prima que envolvia a beleza frágil de Audrey numa aura de sensualidade e poder.
Agora o quinto. Bem, não quero jamais esquecer o que Mary Quant fez pelo mundo ao criar a mini saia, nem ser injusto com o experimentalismo metálico de Paco Rabanne, nem desprezar os Mondrian de Yves Saint Laurent. Nem esquecer, mesmo por que é impossível, daquele tecido transparente que Versace prendeu com alfinetes, por cima de nada, em Liz Hurley.
Tudo isso faz parte da história da Arte tanto quanto a Mona Lisa, a Capela Sistina e a Santa Ceia.

Mas o quinto é muito, muito especial. Tem nome e sobrenome.
Qualquer ser humano normal jamais vai esquecer do vestido de noiva que David e Elizabeth Emanuel fizeram para o casamento de Diana Spencer. Dez mil pérolas, sete metros e meio de véu e aquela cauda imensa de vinte e cinco metros que deslizando pelo tapete vermelho santificou as escadarias da Catedral de Saint Paul.
Mas ainda não é esse. Foi um outro que Lady Di usou.
O casamento do século criou uma lenda e desmontou outra. Materializou a lenda do casamento da quase plebeia com um príncipe. Mas também inverteu uma outra onde o príncipe se transforma em sapo. Um conto de fadas bizarro onde o príncipe, no fim da história, fica com a bruxa.

29 de Junho de 1994.
A Inglaterra estava paralisada na frente da televisão. Num documentário de Jonathan Dimbleby, em uma espantosa entrevista o príncipe Charles diz que tem uma amante. O herdeiro do trono britânico admite publicamente que é adúltero.
Nesta mesma noite Lady Di tinha um jantar beneficente na Serpentine Gallery, no Hyde Park, em Londres. Cristina Stambolian, relativamente desconhecida, havia criado um vestido preto, decote tomara-que-caia, alças largas ao meio dos braços, silhueta justa, saia plissada ligeiramente curta e sexy. Very sexy.
Diana coloca o vestido e sobe majestosamente num Manolo Blahnik negro.
No dia seguinte só havia Lady Di nos jornais. As manchetes estamparam as fotos dela, linda, sexy, usando o Dress Revenge.
O Vestido Da Vingança.