Hobsbawm e a Nova Era das Revoluções

Eric Hobsbawm, aos 94 anos, é provavelmente o mais brilhante historiador vivo. Para ele a classe operária perdeu seu papel histórico. Em entrevista à BBC em 23.12.11 o historiador afirma que a classe operária e a esquerda tradicional estiveram à margem das grandes mobilizações de 2011. Trechos:

A classe média foi a grande protagonista e força motriz das revoltas populares e ocupações que agitaram o ano. 
As mais eficazes mobilizações populares são aquelas que começam a partir da nova classe média modernizada e, particularmente, a partir de um enorme corpo estudantil. Elas são mais eficazes em países em que, demograficamente, jovens homens e mulheres constituem uma parcela da população maior do que a que constituem na Europa. 

Foi uma alegria imensa descobrir que, mais uma vez, é possível que pessoas possam ir às ruas e protestar, derrubar governos. 
As ausências da esquerda tradicional e da classe operária nesses movimentos se devem a fatores históricos inevitáveis.
A esquerda tradicional foi moldada para uma sociedade que não existe mais. As diversas ocupações realizadas em diferentes cidades do mundo ao longo de 2011 não são movimentos de massa no sentido clássico. 

As ocupações na maior parte dos casos não foram protestos de massa, foram formadas por estudantes e integrantes da contracultura. Por vezes eles encontraram ecos na opinião pública. Em se tratando das ocupações anti-Wall Street e anticapitalistas foi claramente esse o caso. 

Há semelhanças entre 2011 e 1848, o chamado Ano das Revoluções, na Europa, quando ocorreram uma série de insurreições na França, Alemanha, Itália e Áustria quando foi publicado O Manifesto Comunista de Marx e Engels. 
As insurreições que sacudiram o mundo árabe e que promoveram a derrubada dos regimes da Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen lembram 1848, uma outra revolução que foi tida como sendo auto-impulsionada, que começou na França e depois se espalhou pelo continente em um curto espaço de tempo. 

As revoluções no mundo árabe tomaram rumo inesperado para aqueles que um dia saudaram a insurreição egípcia, mas que se preocupam com os rumos tomados pela revolução no país. 
Dois anos depois de 1848, pareceu que alguma coisa havia falhado. No longo prazo, não falhou. Foi feito um número considerável de avanços progressistas. Por isso foi um fracasso momentâneo, mas sucesso parcial de longo prazo, não mais em forma de revolução. 
Com a possível exceção da Tunísia não há perspectivas de que os países árabes adotem democracias liberais ao estilo das europeias. 

Estamos em meio a uma revolução, mas não se trata da mesma revolução.
O que as une é um sentimento comum de descontentamento e a existência de forças comuns mobilizáveis - uma classe média modernizadora, particularmente, uma classe média jovem e estudantil e, é claro, a tecnologia, que hoje em dia torna muito mais fácil organizar protestos.