Um bruxo. Uma princesa.

Vinte e seis de Dezembro.
Depois do Natal em Sampa, destino Angra dos Reis. Saída de São Paulo tranquila estrada livre. São José, Taubaté e descida da Serra.
Que serra!
No trecho preservado de mata atlântica uma delícia de curvas de fazer inveja ao rally de Monte Carlo. Uma descida mais radical que a dos Alpes-Maritimes ao principado. Quem já se divertiu por ali ou se lembra da abertura de GoldenEye com Pierce Brosnan na DB-5  brincando com a Famke Janssen numa Spider 355 sabe do que se trata. Pena que o tráfego não deixava nos divertir.

Fazia o dia mais quente na região desde 1917.
Quarenta e nove, sensação térmica de cinqüenta e dois graus. Um recorde de quase cem anos. No resort dezenove pessoas desmaiariam de calor.
Um calor infernal antes de chegar ao paraíso. Duas mil praias, mais de trezentas e sessenta ilhas, uma baía perfeita, cercada de montanhas e cachoeiras. Um dos três melhores lugares do mundo para se navegar.

Um resort deslumbrante, exclusivo, imenso. Campo de golf, cachoeiras, vários canais com piers exclusivos nas casas, trilhas, praias, vilas, bares, lojinhas, restaurantes, iates atracados nos jardins das casas.
Muita gente chegando. Apesar dos dois heliportos houve engarrafamento e vez por outra um helicóptero precisava dar umas voltas antes de encontrar espaço para pousar.

Dez dias de pecados, também gastronômicos, nos esperavam. Entrada, frutos do mar, aves, carnes e sobremesas no almoço. No jantar idem, mais o creme ou sopa. Irresistível, depois a malhação compensaria.
Ao fim de todas as delícias dos muitos dias de dolce far niente - ou quase - dois fatos deliciosos. Um prato e uma frase.

O prato.
Na praia em frente ao resort, sentado próximo ao restaurante, começo a sentir o delicado aroma de cebola sendo preparada. Certamente era um roux que estava sendo feito para a confecção de algum prato. O perfume era refinado, exalava boa manteiga e a doçura das cebolas dourando. Sentia-se que o roux não chegava ao ponto de queima, que escurecia até o ponto certo. Algo maravilhoso estava sendo preparado por um mago em seus caldeirões.
No jantar a sublime revelação. A sopa creme de cebola que tornou o chef  Léo famoso no hotel Maksoud Plaza de São Paulo. Léo atiçava o paraíso com o pecado da gula.
Um bruxo.

A frase.
Ainda em São Paulo um casal se preparava para voar para Angra. Sabendo do enorme calor que fazia na praia ela pede a ele,
- Meu amor, manda o helicóptero na frente com os empregados para ligar o ar condicionado e fazer meu suco de laranja. Bem geladinho.
Uma princesa.