Que o Brasil é um país de festas não é novidade para ninguém, mas há um fenômeno social relativamente recente, que se intensificou na última década. A indústria de festas é hoje um dos setores mais dinâmicos da economia nacional. Festas de todos os tipos. Batizados, festas infantis, de quinze anos, de formatura, todas cada vez maiores e mais caras. Não faz muito tempo que festas de formatura eram só as universitárias. Agora há festas monumentais do segundo e até do primeiro grau.
Formaturas do segundo grau se transformaram em verdadeiros ritos de passagem. Eventos em centros de convenções com centenas de convidados, shows caros com apresentações artísticas comandadas por celebridades. Prêmios, presentes e viagens ao exterior geralmente fazem parte do pacote. Os pais levam anos pagando. Antes e depois.
Mas é nas festas de casamento que a classe média está competindo, gastando como nunca, desvairadamente, muitas vezes sem poder. Não há limites para a imaginação na disputa de quem faz mais, melhor, maior ou simplesmente diferente. Um noivo chegou no pátio em frente à igreja caindo dos céus de pára-quedas.
Mas é nas festas de casamento que a classe média está competindo, gastando como nunca, desvairadamente, muitas vezes sem poder. Não há limites para a imaginação na disputa de quem faz mais, melhor, maior ou simplesmente diferente. Um noivo chegou no pátio em frente à igreja caindo dos céus de pára-quedas.
Muitas festas custam o preço de um ou mais imóveis, e imóveis caros. Recentemente uma família, neste caso realmente rica, construiu uma réplica em todos os detalhes internos e externos do Palácio de Versalhes para uma única noite de festa suntuosa de casamento. A construção foi demolida imediatamente depois.
Voltando à classe média.
Um casal de jovens universitários recém formados planejou pacientemente seu casamento em todos os detalhes. Ele não queria se casar antes de ter o apartamento novo de cobertura completamente adaptado e decorado. Ela não abria mão de antes da cerimônia passar pelo cirurgião plástico. O casamento incluía portanto uma construtora e um hospital. Antes da igreja.
A escolhida, no alto de uma colina à beira de um lago, foi ricamente decorada para receber os convidados e os mais de quarenta padrinhos e madrinhas. Um luxo.
Além dos detalhes óbvios, caros e já corriqueiros havia na igreja três conjuntos musicais que se revezaram cada um em seu momento da cerimônia. Uma orquestra de câmara para os momentos tradicionais, um conjunto de musica popular para os momentos menos litúrgicos e uma cantora de ópera para os momentos solenes.
Além dos detalhes óbvios, caros e já corriqueiros havia na igreja três conjuntos musicais que se revezaram cada um em seu momento da cerimônia. Uma orquestra de câmara para os momentos tradicionais, um conjunto de musica popular para os momentos menos litúrgicos e uma cantora de ópera para os momentos solenes.
O próprio casal cantou suas músicas preferidas. Uma cantada por ele durante a entrada da noiva na igreja. E uma outra no momento dos dois dizerem, cantando, o Sim. A orquestra de câmara preencheu os outros momentos e a cantora de ópera deu o toque apoteótico ao final. Ao fim da cerimônia na saída dos noivos pipocaram fogos de artifício. Um deslumbre.
Depois veio a festa numa das melhores casas de cerimonial da cidade. Há muitas casas especializadas em fazer festas e as mais caras se rivalizam no luxo e na ostentação. São festas que pela alta complexidade de produtos e serviços envolvidos exigem uma organização operacional e uma base logística que a maioria das pequenas empresas comerciais não dispõe.
A decoração de muito bom gosto foi assinada por um famoso arquiteto. O serviço de garçons, maîtres e auxiares, impecável. A variedade de bebidas tornava virtualmente impossível não atender qualquer desejo. Discretamente distribuídos havia paramédicos para os excessos. Nos toaletes femininos profissionais ajudavam em possíveis retoques no cabelo e na maquiagem. O buffet imenso, com incontáveis opções, variaram permanentemente do começo da noite ao jantar, da ceia ao café da manhã no dia seguinte.
Tudo isso pago por duas famílias de classe média em valores equivalentes ao dos imóveis que elas habitavam.
A festa começou com uma orquestra big-band completa no palco tocando standards românticos e de época. Os casais rodopiavam no salão. A festa repleta de muita gente bonita, bem vestida e feliz. Depois a big-band foi substituída por uma banda de rock. Ao meio da apresentação de rock o próprio casal, ambos já vestidos com outro figurino, subiu ao palco, cantaram e apresentaram seu próprio show. Um sucesso.
Em meio aos aplausos eles agradeceram a todos, nominalmente a muitos e fizeram homenagens a alguns presentes. Numa delas o noivo se dirigiu a uma pessoa especial.
- Eu queria agradecer do fundo de meu coração a Maria Luiza que além de ter sido minha babá é uma pessoa querida de nossa família há muitos anos. Todos aplaudem e se voltam para uma mulher bonita de cerca de quarenta anos, acompanhada do marido e filhos. O noivo continua:
- Minha homenagem é ainda mais especial por que agora vou lhes contar um segredo. Foi com ela que aos 13 anos eu perdi minha virgindade!
Aplausos demorados, hurras e assovios. Gritam para ela elogios indecentes. Um frenesi.
Depois do show de rock o palco foi ocupado por um DJ que manteve, com música eletrônica, o ritmo frenético da festa até ao amanhecer quando o café da manhã começou a ser servido junto com as primeiras luzes do dia. O ritmo da festa não desanimava. Ao fim do café da manhã, já com uma música ambiente mais suave os convidados fomos todos surpreendidos com um som inconfundível que invadiu o local. Surgindo de todos os lados o ambiente foi tomado por uma bateria de escola de samba carioca. Completamente fantasiados eles encheram o lugar e fizeram todos se levantar para um carnaval.
Que Gran Finale!
Depois de muita música e animação e com o sol já alto a bateria da escola de samba foi saindo do local levando atrás de si os convidados em direção à rua. Formou-se um bloco de carnaval. A bateria ia na frente tocando alto. Os convidados iam atrás desfilando pelas ruas para surpresa da população. Um delírio. Um casamento inesquecível.
Que não durou seis meses. Nas colunas sociais da cidade apareceram fotos da noiva de biquíni na lancha de um senhor quarenta anos mais velho que ela. Ele estivera no casamento e se apaixonara pela estrela do show.
Que não durou seis meses. Nas colunas sociais da cidade apareceram fotos da noiva de biquíni na lancha de um senhor quarenta anos mais velho que ela. Ele estivera no casamento e se apaixonara pela estrela do show.