Fazer Portugal - Carta à Vahine

Assista a série “Salazar” da SIC sem preconceitos para entender mais e melhor o ethos e a lusa alma.
A série é muito bem feita, surpreendente mesmo.

Portugal foi e sempre será atormentado pelo paradoxo da afirmação da nacionalidade.
Países geograficamente pequenos e com poucos recursos naturais têm sempre presente o pesadelo da viabilidade.
E isso pode leva-los a períodos de introspecção e isolamento econômico e cultural como forma de preservação.
Como já aconteceu.

Foram as grandes descobertas e a formação do império do ultramar que construíram e tornaram Portugal continental viável.
A expansão geográfica e os conseqüentes recursos associados a ela é que viabilizaram e consolidaram Portugal como nação.
Foi o exercício do Grossstaatenbildungkonzept.

Perdido o império, sobraram a língua, a cultura e o passado histórico comuns que são alguns dos elementos fundamentais na formação da nacionalidade.
Mas não todos.
Uma nação precisa além deste capital imaterial fundamental do capital material.
O capital imaterial une e identifica um povo, o capital material o sustenta e o preserva.

Por isso Portugal hoje é um país – país, estado, povo e nação são conceitos diferentes - realizado em suas condições de Direito e Legitimidade.
Mas ao perder território e recursos, deixou de ser viável como nação.
É esse o paradoxo político, econômico e social português.
Salazar sabia disso.
Por isso ele sempre afirmava que as colônias de África eram tão Portugal quanto o Alentejo.
Apesar de fascista, autoritário, retrógrado e provinciano Salazar foi efetivamente um dos grandes estadistas europeus do século passado.
Poucos portugueses amaram e se deram tanto a este país quanto este camponês simplório do Dão.
É preciso admitir isso sem preconceitos políticos.
Hoje eu consigo reconhecer isso dentro de uma perspectiva histórica ampla.

Nesta falta de perspectivas para o futuro, o povo sente de forma difusa esta tragédia. Mas não consegue racionalizar e discutir alternativas modernas e tecnológicas que impeçam este desaparecimento nacional. 
Não espere que as elites econômicas o façam por que elas são apenas isso: elites econômicas.
E o Capital não tem nacionalidade.
Pense nisso e discuta.
A História fez os portugueses, falta agora os portugueses fazerem Portugal
Este é o maior desafio de toda sua história.
Será trágico ver desaparecer nas brumas do tempo o que D. Henrique e Camões “construíram em trabalhos, em perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana”.
“E entre gente remota edificaram este novo Reino que tanto sublimaram” e onde nasceram e vivem esses meus quatro grandes amores.

lusos beijos do papai