A Malemolência baiana quase sempre é confundida, erroneamente, com preguiça. Este comportamento além das raízes sócio-culturais também tem uma poderosa raiz religiosa.
Esta maneira de ser e de estar reflete a ideologia das religiões africanas cuja religiosidade é voltada para a harmonia e comunhão com a natureza e com o prazer de estar vivo. Não se trata do Doce Far Niente, é profundamente diferente. O candomblé estabelece uma relação íntima e pessoal com a sua, ou suas, divindades particulares lhe integrando num universo idílico.
Dançar, cantar, sorrir e molecar são formas de comunicação do Divino. E com o Divino.
São formas de integração com deuses que se comportam como eu e me induzem a me comportar como eles. Deuses que comem da minha comida, bebem da minha bebida, quando não participam até de minhas escolhas e de meus prazeres sexuais.
São deuses que têm desejos, gulas e comportamentos pessoais. Com vontades, caprichos e principalmente personas diversas.
Estes poderosos componentes religiosos predispõem e induzem a um comportamento voltado para o prazer, a tolerância e o desfrute. Sem pecado e sem compromisso com a acumulação material. Forma-se então uma relação com a divindade intricada em cada ato pessoal.
Assim nasceu uma cultura poderosa, colorida e influente que estabelece uma relação especial com o tempo divino onde o passar do tempo não tem um propósito pragmático.
Tempus Divinus. Sem pressa.