O Fado, brasileiro.

O Fado assim como o Samba têem uma história interessante. O Samba que é tão brasileiro nasceu do Chorinho que teve origens em Portugal. E por uma curiosidade histórica, o Fado nasceu no Brasil. Como? Já estás aos copos pá?
O chorinho nasceu do Lundu uma música portuguesa que ao chegar ao Brasil virou Chorinho que ao se misturar com o Samba Duro dos negros da Bahia virou samba. Depois pela mão de um grupo de bahianos que se mudou para o Rio nasceu o samba carioca que é o que hoje conhecemos por Samba. Ok, mas e o Fado?

Quando D. João VI e a corte vieram para o Brasil em 1808 trouxeram suas características culturais e naturalmente sua música. Aqui esta música se misturou à música local e nasceu uma outra com a característica do lamento e da tristeza de quem estava fora da terra natal. Uma musica carregada de saudade e de reflexão sobre o Destino, daí o nome. Fado é destino. 
Quando finalmente a corte voltou para Portugal levou esta música. Chegando em Portugal o Fado se misturou ao que estava sendo feito no país em termos de renovação musical com influências árabes e francesas e então se consolidou como o Fado tal como o conhecemos hoje.

Historicamente o Samba tem origens em Portugal e o Fado no Brasil. Mais um dos aspectos em que os dois países estão tão intimamente ligados. Falar de Fado sem falar em Amália não dá. “Ó Gente Da Minha Terra” um dos mais lindos que ela compôs, tem uma poesia cristalina com um conhecimento psicológico surpreendente. Note este trecho:
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Amália diz que a tristeza pareceria ternura se nela se deixasse embalar. Realmente você pode deixar que uma tristeza te embale ao se entregar a ela. Neste caso, este embalar da tristeza cria um sentimento confortável de ternura. E esta ternura, este conforto, tornaria menos triste o teu falar, o teu cantar. 
Aqui que ela mostra a armadilha. Se você deixa a tristeza te embalar há uma sensação de ternura, há uma substituição. A tristeza diminui mas a amargura aumenta. Amália mostra a inter-relação destes sentimentos e a diferença sutil que só um poeta ou um psicólogo percebem .
Amália vai fundo nesta análise e mostra que a escolha correta é não se embalar pela tristeza. Ela mostra que é melhor deixar o canto ficar triste, como no Fado, e impedir que a amargura se instale na alma.