Sábado de manhã em Boa Viagem, Recife. Céu azul, temperatura agradável, um dia lindo pra
vadiar. Fomos eu e meu tio pro Bar Garagem.
Entre petiscos e caldinhos tomamos nove garrafas de cerveja, eu e Ferro. Ele gostava de Brahma eu de Heineken. Chegou a hora do almoço, voltamos pra casa dele.
Cozinhei um bacalhau crescido do Porto em uma
garrafa inteira de azeite Gallo premium, extra virgem. Azeite novo, feito com as primeiras azeitonas da safra, prensado a frio, apenas 0,3 graus de acidez. Garrafa sem rótulo, embalada em caixa rígida individual também sem rótulo, apenas com uma gravatinha numerada no gargalo da garrafa com o número da unidade. Uma benção
dourada produzida apenas uma vez por ano. Este Gallo eu havia trazido de Portugal para ele. Ferro era connaisseur de azeites:
- Portugueses e espanhóis são mais leves, gregos e italianos mais picantes.
Quando comecei a cozinhar ele me olhou espantado:
- Portugueses e espanhóis são mais leves, gregos e italianos mais picantes.
Quando comecei a cozinhar ele me olhou espantado:
- Você vai usar esse azeite raro para cozinhar? O meu presente?
Demolhado e delicadamente seco numa toalha, fritei as enormes postas do bacalhau numa panela com um pouco do azeite e duas cabeças de alho picado. Quando já estava quase dourando acrescentei uma cebola fatiada e esperei elas amolecerem. Então despejei todo o restante do azeite, toda a garrafa, para horror de Ferro.
- A garrafa inteira?
Acrescentei três batatas com casca cortadas em quatro, um pimentão verde fatiado à juliana e um tomate cortado em meias-luas. O azeite se mistura ao suco do bacalhau e dos legumes e forma um molho espesso. Na metade do tempo de cozimento coloquei tudo com muito cuidado numa forma, ralei um pouco de pimenta preta por cima e levei ao forno para gratinar. Servi-o decorado com salsinha picada.
- A garrafa inteira?
- Calma Ferro, vale a pena, você vai adorar.
Acrescentei três batatas com casca cortadas em quatro, um pimentão verde fatiado à juliana e um tomate cortado em meias-luas. O azeite se mistura ao suco do bacalhau e dos legumes e forma um molho espesso. Na metade do tempo de cozimento coloquei tudo com muito cuidado numa forma, ralei um pouco de pimenta preta por cima e levei ao forno para gratinar. Servi-o decorado com salsinha picada.
Ferro abriu um Periquita, começamos a degustar o bacalhau e
apreciar o vinho. Ao meio da refeição ele abriu um Dão. Quando
terminamos ele serviu um Porto. Continuamos a conversar, saímos da mesa, fiz um café forte, fomos
para o escritório. Ele propôs um Dimple 18 anos, abriu uma garrafa cheia. Brindamos.
Ferro tinha mais de oitenta anos, eu mal chegara aos
cinquenta. Depois de duas doses, já meio tonto, fui tirar um cochilo. Ferro ficou assistindo
Gilda com a Rita Hayworth. Acordei algum tempo depois e vi Ferro ao longe no
corredor me olhando, comentando com a empregada:
- Esse aí é fraco, não aguenta nada.
Levantei fui para o escritório, Gilda já tinha
terminado. Ferro estava lendo jornais, ouvindo uns fados da Amália, o Dimple quase na
metade, ele sóbrio. Sentei ao lado no imenso sofá. Comentamos longamente os fados. Depois ele pediu para colocar Falcão Maltez com o Bogart.
Saudades, Ferro. Para quem vou cozinhar agora seu bacalhau?
Não ria aí de cima. Sei que estás tomando um Dimple 30 anos.
Não ria aí de cima. Sei que estás tomando um Dimple 30 anos.