Um Casal de Franceses

Minha filha Vahine que estuda Cinema de Animação foi escolhida pelo programa Leonardo da Vinci da União Europeia. Ganhou uma bolsa em que ela poderia escolher qualquer país da UE para fazer um estágio profissionalizante.

Ela escolheu a França e foi para Bordeaux, depois Angoulême, a capital mundial da Animação e das Histórias em Quadrinhos. Lá ela estagiou no estúdio Poisson Rouge, um dos melhores da Europa, de ex-diretores da Disney. Mas antes do estágio propriamente dito começar ela teve de se submeter a uma via-crucis cansativa, desgastante. Coagida pelo Estado francês.

Minha pobre filhota, coitadinha, durante um mês inteiro teve de se submeter a várias aulas, provas e degustações de vinhos e queijos. Precisou frequentar um curso de francês para dar uma reciclada na fluência da língua. Exausta ela teve de visitar castelos, igrejas, teatros, palácios e museus da região. E durante tudo isso os franceses insistiam nas tais degustações. Nos finais de semana o sufoco continuava. Exposições, cinema, teatro. Visitas a feiras típicas com comidinhas e dezenas de queijos. Finalmente depois de um mês a maratona chegou ao fim. Ufa!

Lá ela se hospedou na residência de um casal.
Ele um engenheiro aeronáutico da Aerospatiale, especialista em combustíveis líquidos de foguetes. Ela uma psicanalista. Um casal culto, bem sucedido, sofisticado e gentil.
O casal vivia numa bela casa, bem decorada. Tinham hábitos requintados. Obras de arte, muitos livros, filmes e discos. Todos os dias no jantar o casal abria garrafas de vinho que normalmente só se toma em degustações. Vinhos caros, caríssimos. A filhota ficou encantada com tanta finesse, com tanta joie de vivre.

Cultos e civilizadíssimos os dois, o casal tinha uma característica inimaginável em terras selvagens. Apesar da excelente condição financeira eles não tinham carro. Os dois andavam de bicicleta.