Sandra nunca gostou de carros, para ela um carro é apenas um meio para lhe levar de um ponto a outro. Germanicamente racional, mas sem a paixão alemã für Autos, se dependesse dela não haveria Mercs ou Bimmers, as delícias do Ferdinand então nem pensar. Um mistério que talvez só o tarado de Viena poderia explicar. Sandra, apesar do sangue, nunca demonstrou o menor entusiasmo por essa paixão alemã.
Estávamos em Eindhoven, eu a trabalho, ela me acompanhando para aproveitarmos o fim de semana em Amsterdam, quem sabe dar uma passadinha na De Bijenkorf. Uma tarde cheguei mais cedo e saímos para dar uma volta à pé pelos arredores do hotel antes de irmos jantar um Rijsttafel.
Rijsttafel, uma especialidade holandesa de inspiração indonésia da época da colonização. Uma enorme variedade de pratos à base de arroz com diversos acompanhamentos, legumes fritos, hortaliças em leite de coco, pedaços de carne, de aves, de peixes, camarões, molhos e mais molhos. Pimentas fortes quase bhut jolokia. Pede-se um Rijsttafel pelo numero, dez, quinze, vinte ou mais variedades. Uma degustação servida em pequenas porções, todas trazidas ao mesmo tempo. A mesa fica colorida, linda.
Rijsttafel, uma especialidade holandesa de inspiração indonésia da época da colonização. Uma enorme variedade de pratos à base de arroz com diversos acompanhamentos, legumes fritos, hortaliças em leite de coco, pedaços de carne, de aves, de peixes, camarões, molhos e mais molhos. Pimentas fortes quase bhut jolokia. Pede-se um Rijsttafel pelo numero, dez, quinze, vinte ou mais variedades. Uma degustação servida em pequenas porções, todas trazidas ao mesmo tempo. A mesa fica colorida, linda.
Andando pela calçada vi uma placa vermelha com um Cavallino Rampante. Uma surpresa ótima, estávamos chegando numa revenda Ferrari. Além de uns poucos modelos atuais havia uma pequena coleção de modelos antigos. Uma festa para os olhos. Olhei suplicante para Sandra, ela entendeu e acedeu. Entramos, olhamos cada modelo com vagar, fomos na butique, compramos qualquer coisa. Já estávamos saindo da loja quando um rugir levemente abafado me congelou a espinha. Meu deus não era o grito lancinante de um V8, era a harmonia perfeita de um V12.
A música vinha de trás. Me virei lentamente, no fundo da loja estava chegando uma F-575 Maranello vermelha, a mais refinada joia de Módena. Recém lançada eu só a conhecia de fotos. Olhei para Sandra como se tivesse ouvido a voz do Senhor. Ou quase, pois o som é tão divino que Herbert Von Karajan, um dos maiores maestros da história, o grande intérprete das sinfonias de Beethoven só usava Ferraris V12. Pelas qualidades esportivas? Não, pela música do motor.
Caminhei mesmerizado, Sandra ao meu lado, até o fundo da loja à procura da obra de arte. À medida que nos aproximávamos, o som ficava ainda mais perturbador, as formas da bella ainda mais belas. Nos aproximamos, a porta se abriu e por ela saiu um mecânico vestido com o macacão vermelho da fábrica. Ele percebe meu encantamento e começa a conversar. Acabara de chegar da Itália, tinha ido buscar a macchina feroce na própria fabrica. Sandra olhava interessada. Ninguém fica indiferente a uma Maranello.
O mecânico perguntou se não queríamos entrar na Maranello para vê-la de perto. Eu agradeci disse que não estava em condições cardíacas para tamanha intimidade. Ele riu. Sandra aceitou o convite e sem a menor cerimônia entrou, sentou, experimentou, mexeu em tudo. Morri de inveja.
Depois de algum tempo nos despedimos do mecânico. Antes de sairmos da revenda voltei na butique comprei o catálogo da Maranello e o dei de presente para Sandra.
Depois de algum tempo nos despedimos do mecânico. Antes de sairmos da revenda voltei na butique comprei o catálogo da Maranello e o dei de presente para Sandra.
Fomos jantar nosso Rijsttafel. Sandra, folheando o catálogo, sorrindo, comentando a Maranello. Eu ouvia surpreso, um milagre estava se operando, Sandra enfim encantada com um carro. Um carro não, uma Ferrari. Uma Ferrari não, uma Maranello. A certa altura do jantar ela diz:
- Aquele foi o primeiro carro que já senti vontade de ter.
Não acreditei, uma conversão se operava. Deus é grande.
Quando voltamos para a Alemanha, contei o milagre para meu amigo Horst, o diretor financeiro da fábrica.
- Horst, sei que você resolve coisas impossíveis. Agora temos um Projekt Rot para resolver.
- Como assim, projeto vermelho? É o que estou pensando?
- Exatamente, uma Maranello para Sandra. Vamos fazer uma surpresa para ela.
- Ivan, a Maranello está sendo lançada agora, a fila é imensa e a fabrica só está vendendo para clientes que já têm ou já tiveram uma Ferrari.
- E então, como faremos? Sandra nunca me pediu nada, não tem vaidades, não gasta com nada, é uma super mãe. Essa é a primeira vez que vejo ela desejar algo.
Horst tinha muitos contatos comerciais, alguns dias depois ele entrou na minha sala.
- Projekt Rot solucionado. Existem clientes da marca que aproveitam a opção de compra e fazem a encomenda como investimento. Quando se aproxima a data de entrega eles negociam com lucro.
- E então?
- Consegui uma para Março.
- Perfeito Horst, é o mês do aniversário dela.
- Mas há um problema, a cor não pode ser escolhida. Ela é definida na época da encomenda e não pode ser mudada.
- OK, qual é a cor? Não me diga que é preta.
Horst me olha com uma cara malandra.
- Rot!
- Hurensohn! Uma Ferrari vermelha nunca foi um problema!
Ele ri e me entrega um catálogo igualzinho ao que eu havia comprado para a Sandra em Eindhoven. Voltei para casa feliz, mas imaginado o quanto ia ser difícil segurar o segredo até o aniversário de dela.
O catálogo de Sandra ficava na nossa sala de projeção onde ninguém entrava a não ser nós dois. Passados alguns dias me distrai e levei para casa, dentro da minha pasta o outro catálogo, o que Horst havia me dado. À noite, após colocar as crianças para dormir estávamos nos preparando para assistir um filme. Abro minha pasta para pegar alguma coisa e tiro sem pensar o outro catálogo. Sandra viu.
O catálogo de Sandra ficava na nossa sala de projeção onde ninguém entrava a não ser nós dois. Passados alguns dias me distrai e levei para casa, dentro da minha pasta o outro catálogo, o que Horst havia me dado. À noite, após colocar as crianças para dormir estávamos nos preparando para assistir um filme. Abro minha pasta para pegar alguma coisa e tiro sem pensar o outro catálogo. Sandra viu.
- O que é isso?
Gelei.
- Um catálogo da Ferrari?
Ela imediatamente entendeu.
- Você não está tramando algo está? Para que dois catálogos? De onde veio este?
Não dava mais para segurar.
- Comprei uma Ferrari para você. É seu presente de aniversário, uma Maranello. Vermelha.
- O quê? Você enlouqueceu?
- Claro que não, é para você!
- Você já anda no Jaguar a mais de 250, agora vai andar numa Ferrari a mais de 300 nas Autobahnen? Sou muito jovem para ficar viúva. Desfaça o negócio já.
- Como assim? Ela é sua, eu nem vou usar.
- É isso mesmo que você ouviu, desfaça já. Você vai morrer neste carro. Desfaça já.
E lá se foi a Maranello. Vermelha, V12.