The Goddamned Particule

Há uma grande ironia na recente descoberta do Bóson de Higgs no CERN em Genéve. 
A teoria do bóson e de seu campo foi desenvolvida pelo físico inglês Peter Higgs em 1964. A teoria que explica como a matéria se formou é de uma beleza e simplicidade poéticas.

Quando o cosmos começou a esfriar logo após o Big Bang, uma força invisível, que depois ficou conhecida como o Campo de Higgs se formou juntamente com o bóson.
O campo de Higgs funciona como uma teia em volta de partículas elementares sem massa criando uma resistência ao movimento, diminuindo a velocidade das partículas, levando-as a se aproximar umas das outras na região do bóson.
Ao se juntarem as partículas criam massa e formam os átomos. Nesse momento a matéria é criada, nesse momento nasce o Universo.  Sem a existência do campo e do bóson estas partículas continuariam a viajar na velocidade da luz, dispersas pelo cosmos e não conseguiriam se aglutinar. A matéria não existiria. Sem o campo e sem o bóson não existiria o Universo.

Passaram-se 48 anos desde que Higgs apresentou sua teoria até o dia em que o CERN anunciou que tinha encontrado o bóson. Bilhões foram gastos, centenas de cientistas se ocuparam na pesquisa em vários laboratórios em várias partes do mundo. Foi uma corrida de persistência e perseverança onde os centros de pesquisa se revezaram na dianteira para encontrar o bóson.
A corrida assumiu ares de filme de suspense quando Sheldon Glashow, Nobel de Física por uma teoria de campo unificado de forças confirmada no próprio CERN, afirmou que ou o bósom seria encontrado dentro de dois anos ou então não existiria.
O suspense aumentou ainda mais por que no final do ano o acelerador de partículas do CERN teria de ser desligado para revisão técnica. Depois de 48 anos de procura o bósum apareceu cinco meses antes.

Nestes 48 anos os centros que mais chegaram perto da descoberta foram o CERN suíço, que o encontrou, e o Fermilab em Batavia, Illinois, próximo a Chicago.
Neste meio tempo o bóson de Higgs ganhou o poético apelido de A Partícula de Deus.
A origem do nome está no título de um livro que Leon Lederman, Nobel de Física, publicou em 1993 sobre suas frustradas tentativas em achar o bóson. Lederman deu-lhe o título de The Goddamned Particule, A Partícula Maldita.
O editor achando o título ofensivo cortou um pedacinho do nome e ficou The God Particule, A Partícula de Deus, e apelido pegou.

Nos últimos tempos a disputa para encontrar o bóson se acirrou muito entre o CERN e o Fermilab que disputaram literalmente palmo a palmo a dianteira. O CERN ganhou o troféu e o Fermilab ficou a um passo da descoberta da Partícula de Deus.
Lederman que primeiro a chamou de partícula maldita é diretor emérito do Fermilab.