E antes do Big Bang?

Agora já temos certeza de como a matéria se formou no Universo com a descoberta do Bóson de Higgs anunciada nesta quarta-feira 04 de Julho de 2012 pelo CERN. 
A existência comprovada do bóson parte fundamentalmente de dois pressupostos. O primeiro é a existência do Campo de Higgs, a condição necessária para a existência da partícula. O segundo é a existência do Big Bang.

Quanto ao primeiro agora há poucas dúvidas quanto a sua existência já que a partícula não poderia existir sem o campo, e ela efetivamente existe.  
Quanto ao Big Bang, há uma unanimidade quase total no meio científico. Este começo também aparece de forma religiosa tanto na Bíblia quanto em lendas indígenas brasileiras.

Mas como em ciência uma resposta sempre leva a mais perguntas, surge a questão fundamental. O que havia antes do Big Bang?
Nos instantes primordiais da formação do Universo, há cerca de 14 bilhões de anos, só havia energia, força. A maioria dos físicos, tal como Einstein, acreditam na unificação total de todas as forças numa singularidade que se desdobrou nas outras quatro, gerando o tempo, o espaço e as partículas elementares. Era nesta Teoria do Campo Unificado que Einstein trabalhava quando morreu em 1955. Ele buscava uma equação que interligasse as quatro forças do universo, a forte, a fraca, a eletromagnética e a gravitacional.
Tudo criado à custa desta energia primordial. Ok, isso é o Big Bang. Mas e antes?

Todas estas perguntas carregam uma arrogância atroz pelo simples fato de serem feitas por nós próprios. Toda pergunta pressupõe uma resposta, uma resposta satisfatória. No caso essas perguntas são feitas a partir de nossa percepção e pedem por uma resposta satisfatória para quem as fez, isto é, nós próprios. Notou a arrogância?

Nossa percepção do mundo é feita a partir do que vemos, ouvimos e tocamos. Acontece que vemos a partir de um equipamento sensível apenas a uma determinada faixa de ondas, ouvimos também apenas dentro de uma faixa de freqüência e tocamos no que vemos a partir de nosso tamanho. Se fossemos muito maiores, como os astros, ou muito menores como os átomos teríamos percepções do universo absolutamente diversas. 
E isso levando em conta que todas estas informações são processadas a partir da qualidade da inteligência, outra característica muito específica. São muitas características, todas elas muito limitadoras.
Mas essa é a “nossa” realidade, evidentemente existem outras, seria a arrogância suprema não admitir isso, e ainda assim ou por isso mesmo e com tantas limitações vale à pena perguntar: E antes do Big Bang?

Claro que a essa altura o papo parece se encaminhar para a existência ou não de Deus. Mas não é essa a intenção, mesmo que esta questão sempre esteja presente pelas seguintes razões:
1. Sendo o Universo um efeito há de haver uma causa.
2. Se o Universo é um desígnio isso implica em um propósito.
3. A operação do Universo com suas leis naturais implicam numa mente que as produziu.
4. As idéias do Homem sobre Deus implicam num Deus que as imprimiu.
5. O sentido moral embutido no Homem do bem e do mal só pode ser considerado a partir de uma consciência inata de um código de regras, que necessariamente teria de ter sido implantado por um ser mais elevado. 

Mas essa não é a questão, a pergunta é: E antes do Big Bang?
A resposta é mais ou menos óbvia e simplória. Antes do Big Bang só poderia existir sua causa, sendo ele um efeito. 
Cientificamente o Big Bang é a explosão da energia primordial que deu origem a todas as outras forças, às dimensões, ao espaço e ao tempo.
O tempo é a dimensão onde acontecem os fenômenos de causa e efeito. Sendo o começo do tempo simultâneo ao do começo do Universo, então a causa do Universo é uma entidade operando em uma dimensão completamente independente e pré-existente à dimensão do próprio tempo. A conclusão é cristalinamente óbvia.

Assim sendo a causa do Universo não é ele próprio nem está contido dentro dele.
Mas essa forma de vazio, esta singularidade que não continha nem espaço, nem tempo, nem matéria, nem luz, nem som, continha necessariamente as leis da natureza que estava para ser criada um bilhão de um trilionésimo de segundo depois do Big Bang.
Novamente estamos indo na direção de trombar com Deus na próxima esquina.
Tudo isso poderia ser evitado se considerássemos que o Universo sempre existiu, que ele é infinito e não teve um começo. Essa é uma resposta tão confortável quanto irracional. Pois para que este modelo fosse verdadeiro teríamos de negar o que já se comprovou: neste exato momento o Universo está se expandindo, portanto há um ponto inicial.
Este modelo também esbarra em outro absurdo físico: num universo que sempre existiu não cabe a dimensão do tempo, só a do espaço. E todo mundo que tem espelho em casa sabe que o tempo está passando, e rápido.

Portanto a chance de trombar com o velhinho de barbas brancas está aumentando muito.
Essa é uma das discussões mais saudáveis que existem e que não necessariamente deve acabar com uma amizade. Muito pelo contrário pode ser até muito divertida se conduzida com inteligência. Vamos lá.
Coloque de um lado o Bertrand Russel um gênio da matemática e da filosofia, pacifista e ateu. Russell entre outras obras brilhantes escreveu o “Principia Mathematica” um marco extraordinário de lógica formal com os princípios filosóficos da matemática e o divino “Por que não sou Cristão”.
Do outro lado coloque o arcebispo de Canterbury, o equivalente na igreja anglicana ao papa da igreja católica. Os dois efetivamente toparam este encontro para discutir publicamente a existência de Deus. Os dois britânicos, e bem britânicos; no bom sentido é claro.

Russel perguntou se o arcebispo acreditava em Deus, se acreditava no diabo. Diante da resposta Russel perguntou se deus era o flat do Bem, se era onipresente, onipotente e onisciente. O arcebispo responde que sim e Russel então conclui:
- Neste caso, o Mal, o diabo, é fruto de um cochilo de Deus.
O arcebispo naturalmente não se abalou e perguntou se Russel acreditava no Evolucionismo. Diante da afirmativa, ele continuou:
- O senhor acredita então que descende dos macacos.
- Sim.
- E no seu caso particular, Mr. Russel, o senhor descende deles por parte de pai ou por parte de mãe?

Voltando à maravilhosa comprovação científica do Bóson de Higgs que desvendou como a matéria se formou após o Big Bang.
O Bóson foi encontrado a partir de uma teoria que pressupõe a existência do Campo de Higgs que funciona como uma “teia” que mantém as partículas circulando em determinadas condições. O Campo de Higgs é por definição da própria teoria, mantido por uma “força inexplicável”.

Voltando à pergunta inicial: - E o que havia antes do Big Bang?
Infelizmente a pergunta é auto-contraditória. É uma pergunta tão ilógica que seria capaz de tirar o Spock do sério, deixar vermelhas suas orelhas pontudas, estragar até seu Kolinahr.
Não pode haver nada antes de um começo. O Big Bang é ex nihilo.
Sendo o Big Bang a origem das dimensões do tempo e do espaço, não havia um tempo anterior onde algo acontecesse. Sua causa está necessariamente, implicitamente, fora dele, não ocupa lugar nem no tempo nem no espaço.

Uma coisa é certa: desde o começo do Universo a sua causa, seu modus operandi, suas leis e a sua natureza podem ser observadas de forma clara e constante.
E isso não é apenas uma observação científica, está na carta de Paulo aos Romanos (Rm. 1.20).