Existem poucos casos na História de uma espionagem industrial tão bem sucedida como esta e com conseqüências tão enormes para milhões de pessoas.
A Coffea Arabica descoberta casualmente por um pastor de cabras nas colinas etíopes logo se tornou um hábito, uma riqueza e um segredo de estado que enriquecia algumas nações.
Rapidamente os europeus se acostumaram a tomar o café que crescia na Arábia e na Ásia. Quem o produzia o guardava como segredo de estado. Era estritamente proibida a exportação de sementes vivas, de grãos não cozidos. Bebida de ricos e poderosos, o rei Luiz XIV produzia seu próprio café na primeira estufa da Europa, o Jardin des Plantes de Versailles.
No século XVIII as Companhias das Índias tinham o monopólio das importações. O ouro negro ainda não era o petróleo, era o café. Uma bebida cara, disponível apenas para as elites que podiam pagar por ele. Franceses e holandeses faziam fortuna com este comercio, até que eles próprios começaram a plantar café nas respectivas Guianas Francesa e Holandesa, mas seguindo sempre a mesma política de segurança que mantinha o segredo e a exclusividade da planta.
Eis que de repente, não mais que de repente, acontece em 1727 um caso de disputa de fronteiras entre as Guianas francesa e holandesa. Como os governadores dos territórios não chegavam a um acordo foi estabelecida uma arbitragem internacional. Um país neutro vizinho foi escolhido para mediar a delicada questão territorial.
Francisco de Melo Palheta foi o oficial escolhido para arbitrar a disputa.
Lá chegando Palheta encantou-se com a mulher do governador francês. E ela mais ainda. A francesinha não resistiu aos encantos do representante brasileiro.
O casal vivia tórridos momentos enquanto o pau comia entre os governadores. Enquanto franceses e holandeses brigavam por posse de terras, a francesinha se deixava possuir. Enquanto os governadores das Guianas discutiam o tamanho de suas terras, Palheta mostrava o tamanho da sua.
Brasil e França mantinham acesas suas melhores relações. Pelo menos um brasileiro e uma francesa estavam desfrutando de alguma Liberté e muita, muita Fraternité. E o governador francês nem desconfiava ocupado demais com o holandês, discutindo Égalité.
Mas Palheta não estava interessado apenas na comida francesa. Nem nos vinhos franceses nem em colher suas deliciosas uvas. Ele queria café.
E como a francesinha poderia resistir aos enormes encantos daquele, incomumente, másculo diplomata? Ela acabou atendendo a todos seus desejos, inclusive ao que ele mais queria.
Finalmente no jantar de despedida, ali bem na frente do marido, ela sem nenhum pudor lhe satisfez seu mais intenso, seu último desejo. Ali na frente de todos ela deu, ela deu a Palheta um enorme buquê.
Escondidas no buquê estavam as sementes vivas que iriam transformar o Brasil no maior produtor mundial de café, iriam trazer milhares de imigrantes para trabalhar na lavoura e influenciar nossa cultura. E acima de tudo iriam produzir a riqueza que financiou a posterior industrialização e modernização do país.
Certamente esta foi a maior vitória da diplomacia brasileira. E que fez mais uma vez com que a Europa se curvasse ao Brasil.
Literalmente.