O Despertar de Astha

Astha escreveu seu primeiro romance aos 12 anos.
À Procura de Algo Impossível. Uma parte deste romance foi usado como texto no concurso nacional dos CTT – Correios de Portugal e foi premiado como melhor texto literário de 2011. O público que a elegeu lhe atribuiu 240% mais votos que ao segundo lugar. O premiado escritor Raimundo Carrero foi definitivo: 
- Ela tem talento, e muito.

Acredito que Astha despertou para sua carreira criativa numas férias que passamos Klaus, ela e eu na praia de Tamandaré em 2001, na Costa dos Corais entre Pernambuco e Alagoas no Brasil.
Foi seguramente uma das melhores férias que já tive. Como foram fora da estação de turismo tínhamos todo aquele paraíso inteiro literalmente para nós.
Muitas vezes naquele arco imenso de quilômetros de praia não havia mais que dez pessoas. Temperatura ótima, o mar ora azul ora verde num transparente inacreditável, uma paz que lavava a alma.

Na época Klaus tinha cinco e Astha quatro anos. Nossa rotina era perfeita.
Acordávamos bem cedo e íamos para a praia, brincar na areia, surfar nas marolas, mergulhar com óculos, correr na praia, descobrir coisas, catar conchinhas, olhar os peixinhos nas piscinas naturais.
Antes das dez horas voltávamos para a casa. Tomávamos banho, colocávamos bermudas, eles ficavam assistindo televisão, jogando, brincando.

Eu tomava um gole de cachaça para abrir o apetite e ia cozinhar nosso almoço que dependia do que nosso pescador tivesse trazido naquele dia.
Depois do almoço, tirávamos todos uns cochilos e acordávamos depois das três da tarde. Esperávamos o sol ficar mais suave e íamos de novo à praia para as mesmas brincadeiras.

Voltávamos depois do sol se pôr. No caminho de casa tomávamos um sorvete ou ficávamos a conversar com o casal dono de um mercadinho.
Banho tomado, enquanto os dois se divertiam com algum dos brinquedos que tínhamos levado, eu lia algum livro e depois preparava o jantar.
Ou mais comumente acendia a churrasqueira no jardim da frente da casa para assar carne, frango ou lingüiças.

As noites eram claras e incrivelmente estreladas.
Ficávamos na varanda a contá-las, a esperar por estrelas cadentes e fazer os respectivos pedidos. Eu então lhes contava histórias. 
Estas histórias nós íamos alterando, inventando e criando ali mesmo na hora, com os típicos personagens infantis: pássaros, lobos, peixes, fadas, magos, príncipes, bruxas dentro daquele imaginário das histórias de criança. E naturalmente nos incluíamos e aos nossos conhecidos, nestas histórias.
Ficava engraçado e muito criativo.

Astha adorava brincar com estas estórias.
Ela as criava, modificava e resolvia enredos, começos e finais. 
Mudávamos cenas, discordávamos do destino dos personagens e às vezes chegávamos a impasses curiosos. 
Havia de tudo: lobos-maus que se regeneravam, bruxas que viravam fadas, fadas que viravam bruxas, sapos que não queriam virar príncipes, princesas que queriam virar sapo, por aí...
Como a criação era coletiva gerava as mais absurdas situações, todas elas engraçadíssimas. Mas a Astha tinha uma solução criativa para todas elas.

Alí naquele paraíso de sonho com quatro anos estava nascendo a escritora que Astha viria a ser no futuro.