Made in China

A China hoje já responde por um quinto da produção global. 
Mas os tempos de produção barata estão chegando ao fim. A globalização funciona como um sistema de vasos comunicantes onde é apenas uma questão de tempo de fluxo para que os sistemas se equalizem. 

Se no começo da globalização os salários baixos da Ásia atraíram muitas fabricas e postos de trabalho da Europa e dos EUA o sistema agora está se equilibrando com aumento dos salários e de outros custos na própria Ásia. 
Os custos estão subindo não apenas nos preços da terra, nos custos ambientais, de segurança e de impostos. Os custos estão crescendo principalmente nos salários.

Em março a Standard Chartered divulgou uma pesquisa feita em 200 fabricas onde se nota que os salários subiram 10% este ano. A Foxconn que faz os iPads da Apple em Shenzhen aumentou os salários em 16 e 25% só no mês passado.
Os custos dos salários subiram em 20% por ano nos últimos quatro anos diz Dale Weathington da Kolcraft.
– A China já não é barata como costumava ser. 
Outro fator importante é que o progresso no interior está dificultando as empresas de manter e trazer trabalhadores migrantes. Depois das férias do último Ano Novo Chinês 15% deles não retornaram para a Kolcraft. 

Os custos de mão de obra em Guangdong aumentaram 12% e em Xangai 14% ao ano entre 2002 a 2009. Comparativamente o aumento foi de apenas 8% nas Filipinas e de 1% no México.
Para 91% dos membros da Câmara de Comércio Americana em Xangai os maiores desafios de hoje são os custos crescentes de mão de obra, mais problemáticos que a corrupção e a pirataria. 
Joerg Wuttke da Câmara de Comércio da UE na China prevê que o custo para fabricar na China pode subir duas vezes ou mesmo três vezes até 2020. 
A Alix Partners prevê que se o Yuan e os custos de transporte aumentarem 5% ao ano e os salários crescerem 30% ao ano até 2015 custará o mesmo produzir na China e enviar a produção para os EUA quanto produzir lá mesmo. 

Essa convergência provavelmente será mais lenta, mas a tendência é clara. 
Como na imagem dos vasos comunicantes os desempregados do primeiro mundo começam a aceitar salários e benefícios mais baixos e a crescente classe média asiática começa a pedir por mais. 
Os custos tendem a se igualar em alguns anos. 

Mas enquanto a convergência não chega toda a fantástica infra-estrutura que a China criou nestes anos de bonança vai segurar muito a maré vazante.
O país sabiamente soube aproveitar as imensas oportunidades do passado recente e se modernizou em todos os setores da economia, pesquisa e educação.

Fortemente dependente de commodities a China está bem quanto às matérias primas que mais interessam. Há anos ela detém o monopólio da prospecção dos metais de terras raras. São 17 elementos com características químicas ou físicas especiais vitais à indústria de alta tecnologia.
A China é a única nação que dispõe de toda a cadeia de produção para a fabricação e extração dos metais, passando pelo refino até o seu processamento.


Apenas a título de curiosidade James Cameron chegou à China neste sábado 21.04.12 para tratar da co-produção de Avatar 2 e Avatar 3, pouco depois do anúncio que Iron Man 3 será co-produzido por lá. A China é hoje o segundo mercado mundial de cinema faturando $ 2,06 bilhões de dólares nas bilheterias.

Mesmo a dependência das commodities mais comuns está sendo superada com as imensas reservas que o país acumulou. A China está se precavendo e investindo maciçamente na produção de alimentos na África.
É esse planejamento estratégico que está transformando a China na primeira potencia econômica do planeta. 

Diferentemente da Terrae Papagalis, este eterno país do futuro. Produtor de commodities e de gente muito, muito esperta.

Ou talvez sejamos realmente o último país feliz do mundo. 
O que não é muito difícil de entender já que o analfabetismo funcional atinge cerca de 68% da população. Somados esses 68% de analfabetos funcionais aos 7% da população que é totalmente analfabeta resulta que 75% da população não possui domínio da leitura, da escrita e das operações matemáticas. 
Ou seja na prática 3 de cada 4 brasileiros são analfabetos. 

E felizes, muito felizes. Ao som de muito pagode, arrocha e axé.
Aff...