Que o Brasil é um país estridente e barulhento não é novidade para ninguém. Certamente suas raízes tropicais, seus animais, seus pássaros tiveram uma enorme influencia na formação, ou na falta de, de sua população.
As pessoas falam alto, ouvem musica alto, automóveis e casas tocam musica na altura de trios elétricos. Além dos próprios é claro.
Mesmo assim me surpreendi quando um dia destes ouvi um som alto vindo não de uma casa, de um automóvel, não da rua, mas de cima. O som vinha do céu.
Olhei para o alto e vi que o som vinha de um pequeno Piper que voava muito baixo sobre a cidade. Um avião monomotor muito simples carregando alto-falantes fazendo publicidade. O som naturalmente era altíssimo afinal vinha de um avião lá no alto e deveria ser entendido cá em baixo.
Tocava fanfarras e um locutor anunciava nada mais nada menos que a chegada de um circo à cidade. Naturalmente dizia ser o maior e melhor espetáculo já visto, com grandes atrações.
Existem poucas coisas mais melancólicas, mais bregas, mais dolorosamente kitsch que um circo, mambembe ou não. Mas ouvir compulsoriamente sua publicidade vinda do alto, tocada por um avião em vôo baixo sobre toda a cidade beira o escatológico.
Para um país em que uma companhia de gás engarrafado não se constrange em colocar seus caminhões de distribuição tocando Pour Elise de Beethoven aos berros pelas ruas das cidades enquanto anuncia seu produto e seu preço, não chega a ser tão surpreendente assim.
De qualquer maneira ainda é melhor ouvir um Piper anunciando um circo do que ouvir um Stuka tocando a Cavalgada das Valquirias de Wagner.
Na verdade bom mesmo seria fazer estes últimos tocar em cima dos primeiros.