Papai Noel

Papai Noel é uma figura lendária associada à uma figura histórica.
São Nicolau Taumaturgo, arcebispo de Mira na Turquia, nasceu no ano 280 e costumava ajudar anonimamente quem estivesse em dificuldades financeiras colocando um saco com moedas de ouro na chaminé das casas.
Papai Noel também é chamado no além mar de Pai Natal pelos infelizes súditos do imperdoável exportador de gente Passos Coelho.

Algumas lendas dizem que o bom velhinho mora no Pólo Norte uma terra de neve eterna.
Outras dizem que ele mora nas montanhas de Korvatunturi da Lapônia na Finlândia cercado de elfos mágicos e oito ou nove viadinhos voadores.
Outra lenda diz que ele faz uma lista de crianças de acordo com seu comportamento.

Clark Moore, professor de literatura grega em Nova Iorque, escreveu em 1822 o poema Uma visita de São Nicolau para seus seis filhos. Aqui aparece a versão de Papai Noel viajando num trenó puxado pelas renas.
A versão da chaminé veio também da Finlândia.
Os lapões viviam em pequenas tendas semelhantes a iglus cobertas com pele de rena. A entrada da casa era um buraco no telhado.
A chaminé também se relaciona ao costume de limpa-las no Ano Novo para deixar que a boa sorte entre na casa durante o resto do ano.

O visual atual de Papai Noel é obra do cartunista alemão Thomas Nast na edição de Natal de 1886 da revista Harper's Weeklys. Até então ele era representado com roupas de inverno de lenhadores.
Em alguns lugares da Europa ele ainda é representado com paramentos eclesiásticos de bispo, uma relação com o bispo Nicolau, usando em vez do gorro uma mitra episcopal.
Os holandeses, que já foram colônia da Espanha, fizeram um samba-do-criolo-doido e acreditam que Papai Noel é um bispo espanhol que chega à cavalo, vindo do oeste, um dia antes do Natal com presentes para as crianças.
Nicolau, o bispo turco, foi declarado santo pela igreja católica pelos milagres que lhe foram atribuídos.
Quem diria que a maior festa cristã tenha seu símbolo nascido numa região do Profeta.
Papai Noel é um símbolo nascido em terras muçulmanas.

A arvore de Natal, o Tannembau, foi criada por Matinho Lutero na Alemanha. Como o pinheiro é a única arvore que permanece verde no inverno, época do Natal no hemisfério norte, ele a usou como símbolo de permanência da vida.
Lutero colocou um tannembau num altar de igreja na época do Natal representando a noção cristã de renascimento em Jesus. Catarina achou chiquérrimo.
A arvore de natal é um símbolo protestante.

Quanto à data o Natal é a festa em que se comemora o nascimento de Jesus.
Na antiguidade o Natal era comemorado em datas diferentes pois não se sabia com exatidão a data do nascimento do filho da virgem.
Somente no século IV o 25 de dezembro se estabeleceu como data da comemoração. Na Roma Antiga o 25 de dezembro era a data que os romanos comemoravam o início do inverno.
Uma data pagã.

Um bispo turco, nascido em terras muçulmanas, que mora sozinho no pólo norte e que aparece ao lado de um arvore protestante numa data pagã vestido, futuramente, com as cores de um refrigerante. 
Dito assim é assustador, quando não bizarro.

Fairy Tales são contos de terror de crianças.
Algumas como a do lobo-mal estão associadas à justificativas sociais. Neste caso por que era preciso exterminar os lobos que contaminavam com o vírus da raiva os rebanhos na Inglaterra medieval.
Outras como as de anões e duendes estão ligadas à degeneração física dos trabalhadores das minas de sal de Steinberg, na Montanha Sandling no Tirol austríaco.
Operada por um pequeno grupo de famílias durante cerca de três mil anos, ainda na época do império egípcio,  os mineiros extraíam o sal em extensos, profundos e estreitos túneis subterrâneos.
Durante séculos por conta da endogamia, condições de trabalho e alimentação enquanto os homens cresciam os mineiros que viviam nas entranhas da terra foram perdendo estatura ao longo de dezenas de gerações. 

Os contos de fada já eram catalogados quatro mil anos antes de Cristo. Historicamente eles desempenharam um papel importante na educação, transmissão de valores e formação do inconsciente coletivo.
Esta linguagem metafórica transgride o pensamento racional e abstrato revelando um mundo onde o homem e a natureza não se distinguem.
Jung percebeu no caráter metafórico dos contos a base poética da mente. 
Como elementos de catarse social eles refletiam os sonhos e angústias de suas populações.
Se não posso dobrar os deuses ao menos moverei os infernos, notou Freud. 

Mas nenhuma destas figuras tem uma dinâmica histórica tão extensa e adaptativa quanto o Papai Noel.

Tanto visualmente quanto conceitualmente foi a Coca-Cola quem estabeleceu o Papai Noel atual.
Em 1931 a produtora da deliciosa L'acqua nera del'imperialismo fez uma campanha publicitária vestindo Papai Noel com as cores vermelha e branca da empresa e de garrafa na mão.
Althusser, Marcuse e Adorno se arrepiaram com tamanha absorção.
A campanha foi criada para promover o consumo de Coca-Cola no inverno, período em que as vendas eram mais baixas.
Foi um sucesso.

A simbologia e o conceito do Papai Noel e do Natal se modificaram e se mesclaram antropofagicamente no melhor estilo Oswald de Andrade.
Hoje a data, a figura e o comportamento social estão efetivamente ligados ao conceito da Coca-Cola de estimular o consumo.
Boas compras.