Não hesite, nunca espere para dizer a alguém que você lhe ama. O tempo não perdoa. Um minuto faz diferença, a oportunidade não volta.
Eu trouxe-a. Ela chegou, sua figura física era lamentável. Estava devastada pela doença. Chegou numa quinta-feira, morreu na segunda. Viveu cinco dias alegres, cercada pelas crianças, numa felicidade que eu nunca tinha visto nela.
Ficou cinco dias e partiu. Morreu de manhã.
Ficou cinco dias e partiu. Morreu de manhã.
Minha mãe me amou devotadamente, insanamente, como nunca fui amado por ninguém.
Uma noite fui dar boa-noite e beijar meus filhos como sempre fazia antes deles dormirem. Fui no primeiro quarto, beijei Klaus, Astha e Taanit. Depois fui no segundo onde mamãe estava com Vahine. Desejei boa noite e beijei minha filha. Mamãe me olhava com doçura, desejei-lhe boa noite e saí. Não a beijei. Estava tão feia que não consegui beija-la.
Durante a madrugada ela teve um AVC, acordou balbuciando, chamei uma UTI móvel. A equipe chegou, cuidaram dela. O médico alemão me perguntou,
- Ela acabou, é o fim. Na América vocês prolongam a vida ao máximo com aparelhos, aqui preferimos deixar a natureza agir. O que o senhor decide?
- Deixe a natureza agir.
Levaram-na para um hospital.
Quando lá cheguei ela já estava imóvel numa cama. Entrei sozinho no quarto. Me aproximei da cama, me aproximei dela, olhei seu rosto pálido, imóvel, os olhos fechados.
Lembrei de seu olhar doce na noite anterior, lembrei do beijo que não lhe dei. O beijo que neguei à quem mais me amou na vida. O beijo que eu agora jamais poderia lhe dar.
Me aproximei dela, toquei-lhe o rosto quase frio, passei as mãos em seus cabelos ralos. Baixei meu rosto em direção ao dela, beije-lhe a testa. Um beijo inútil, um beijo culpado.
Seus lábios se mexeram levemente. Ela ainda vivia. Ela balbuciou baixinho, sem forças. Não entendi o que ela dizia. Aproximei meu ouvido de sua boca. Ouvi um fiapo de vida, um murmúrio,
- Ivan... Ivan meu filho.
Beijei-lhe o rosto.
Morreu.