Em vinte anos Portugal recebeu 120 mil brasileiros.
Nos últimos seis meses 52 mil portugueses se mudaram legalmente para o Brasil via Passos Coelho Export Airlines.
Conta rápida: são dois Boeings por dia. Um português de cinco em cinco minutos, 24 horas por dia, sete dias por semana.
Que sejam todos muito bem vindos.
Apenas aritmeticamente falando, nesse ritmo Passos Coelho, o primeiro-ministro que tem aconselhado seus patrícios a sair do país, conseguiria transferir Portugal inteiro para o Brasil em menos de três anos.
Manchetes de jornais portugueses estampam "A Avalanche de Novos Portugueses No Brasil".
Arquitetos, engenheiros e administradores parecem ser a maioria, mas há quem chegue apenas com o secundário.
O Brasil recebeu 329 mil pedidos de visto em seis meses.
Manchetes de jornais portugueses estampam "A Avalanche de Novos Portugueses No Brasil".
Arquitetos, engenheiros e administradores parecem ser a maioria, mas há quem chegue apenas com o secundário.
O Brasil recebeu 329 mil pedidos de visto em seis meses.
É assustador que em apenas seis meses 3% da população portuguesa tenha pedido residência no Brasil.
Um êxodo mais comumente associado a situações de guerra ou de catástrofes.
E é.
É a catástrofe política e econômica que a política portuguesa construiu ao longo dos 25 anos pós-entrada de Portugal na Comunidade Européia.
Bilhões de Euros foram recebidos através de fundos comunitários, a maioria deles a fundo perdido.
Os que não se dissolveram em transações suspeitas e foram efetivamente gastos, acabaram empregados em obras fúteis ou inúteis.
Não se fez planejamento de longo prazo nem muito menos se investiu em ciência, tecnologia e desenvolvimento sustentável.
A população seguiu o exemplo e entrou num consumismo desvairado de novos-ricos, gastando e se endividando.
Agora tanto o país quanto a população estão quebrados, afogados em dívidas que não podem pagar.
O país sem um futuro definido. A população desempregada e endividada.
Neste ambiente caótico o primeiro-ministro Passos Coelho aconselha os desempregados a saírem para o Brasil e para Angola.
Alexandre Mestre o ministro para a Juventude aconselha os jovens a imigrar.
O eurodeputado Paulo Rangel propõe a criação de uma agencia nacional para ajudar os portugueses a sair do país.
Seria bizarro se não beirasse o criminoso.
São declarações de uma irresponsabilidade política alarmante.
Um país que se arrisca a prescindir de sua juventude para construir seu futuro.
Um país pobre que gastou muito para educar e formar sua juventude e depois a oferece gratuitamente a países que estão em melhor situação.
Suicídio lento e a longo prazo.
Nas manifestações de rua os jovens carregam cartazes:
"Quero trabalhar sem precisar emigrar",
"Emigra tu Passos Coelho".
Um grupo de manifestantes se reuniu em frente à residência oficial do primeiro-ministro para lhe,
"Devolver o Convite"
Dezenas de milhares já assinaram a carta aberta de Myriam Zaluar à Passos Coelho.
Trechos:
....Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia...
...Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer... Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer...
...Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu...
...Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida...
...Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa"...
...Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor ...
...Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor.
...Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara...
...Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, Feliz Natal. Ou Feliz Ano Novo à sua escolha, Senhor Primeiro-Ministro...
Quem sai, sai para ser estrangeiro, ser cidadão de segunda classe, no país que escolheu.
Nas manifestações de rua os jovens carregam cartazes:
"Quero trabalhar sem precisar emigrar",
"Emigra tu Passos Coelho".
Um grupo de manifestantes se reuniu em frente à residência oficial do primeiro-ministro para lhe,
"Devolver o Convite"
Dezenas de milhares já assinaram a carta aberta de Myriam Zaluar à Passos Coelho.
Trechos:
....Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia...
...Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer... Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer...
...Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu...
...Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida...
...Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa"...
...Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor ...
...Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor.
...Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara...
...Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, Feliz Natal. Ou Feliz Ano Novo à sua escolha, Senhor Primeiro-Ministro...
Quem sai, sai para ser estrangeiro, ser cidadão de segunda classe, no país que escolheu.
Sem as nuances da língua, sem referências sociais, sem intimidade cultural, sem raízes. E quando após alguns anos se comparar com os que ficaram a comparação dificilmente será favorável.
Que sai perde network e não consegue construí-la no novo país.
A rede de contatos escolares, familiares, políticos e de amizade que se constrói ao longo de anos é fundamental para o sucesso de qualquer exercício profissional.
Mais até que a própria competência.
Quem fica enxerga oportunidades que aquele que saiu normalmente não consegue ver em um ambiente estrangeiro.
Isso sem falar na construção sócio-emocional.
Pior é a situação do que saiu e depois voltou.
Pior é a situação do que saiu e depois voltou.
O retornado.
Além de perder a network, não consegue recupera-la e é visto como aquele que saiu nos maus tempos e que volta na bonança.
O retornado normalmente é visto ou como um fracassado ou um ingrato. No mínimo como um estranho.
Para quem imigra, apenas sua segunda ou terceira geração, crescida e adaptada ao novo país terá uma vida normal.
O imigrante pode até chegar a ser visto como estrangeiro por seus descendentes, e a depender da tolerância social do país, poderá ser discriminado por seus filhos e netos.
Muitas vezes a saída para enfrentar os desconfortos de ser estrangeiro tem sido formar ou se juntar a máfias específicas de nacionalidades ou viver em guetos de imigrantes.
Uma situação perigosa, a outra melancólica. As duas à margem.
Isso é claro se trata de quem imigrou de forma definitiva. A situação do expatriado profissional que imigra temporariamente por curtos períodos e vive ao sabor de oportunidades financeiras em diversos países é diferente.
Não é o caso de quem troca efetivamente de país.
No caso específico das correntes migratórias entre Portugal e Brasil a situação é menos critica, pois em geral há algumas ligações familiares mesmo que distantes e alguma identificação cultural.
E no sentido Portugal-Brasil a recepção aos portugueses, pela própria natureza do Brasil, será sempre muito mais amigável que a recebida pelos brasileiros que para lá foram.
Contudo independentemente da receptividade natural dos brasileiros, o problema estrutural do imigrante permanece.
Meu bom amigo português Armindo Paulo imigrou aos 16 anos para o Brasil, aqui se casou, teve um filho e voltou rico para Portugal com a mulher brasileira, deixando para trás os amigos, a família da mulher e grande parte de sua história. Em Portugal o filho se casou e "seu"Armindo teve netos.
Ele lamenta,
- No Brasil sou tratado como português, em Portugal sou tratado como "o brasileiro".
E concluí como num fado,
- Metade da minha vida está em Portugal a outra metade no Brasil. Meu coração ficou no meio deste oceano imenso, a sangrar de saudades, ora de cá ora de lá.
Pedro Passos Coelho está oferecendo um doce veneno que ele próprio não irá provar.
Uma situação perigosa, a outra melancólica. As duas à margem.
Isso é claro se trata de quem imigrou de forma definitiva. A situação do expatriado profissional que imigra temporariamente por curtos períodos e vive ao sabor de oportunidades financeiras em diversos países é diferente.
Não é o caso de quem troca efetivamente de país.
No caso específico das correntes migratórias entre Portugal e Brasil a situação é menos critica, pois em geral há algumas ligações familiares mesmo que distantes e alguma identificação cultural.
E no sentido Portugal-Brasil a recepção aos portugueses, pela própria natureza do Brasil, será sempre muito mais amigável que a recebida pelos brasileiros que para lá foram.
Contudo independentemente da receptividade natural dos brasileiros, o problema estrutural do imigrante permanece.
Meu bom amigo português Armindo Paulo imigrou aos 16 anos para o Brasil, aqui se casou, teve um filho e voltou rico para Portugal com a mulher brasileira, deixando para trás os amigos, a família da mulher e grande parte de sua história. Em Portugal o filho se casou e "seu"Armindo teve netos.
Ele lamenta,
- No Brasil sou tratado como português, em Portugal sou tratado como "o brasileiro".
E concluí como num fado,
- Metade da minha vida está em Portugal a outra metade no Brasil. Meu coração ficou no meio deste oceano imenso, a sangrar de saudades, ora de cá ora de lá.
Pedro Passos Coelho está oferecendo um doce veneno que ele próprio não irá provar.