Em 09 de Dezembro de 1905 estreou em Dresden, Salomé a ópera de Johann Strauss baseada na obra de Oscar Wilde.
Com a marca libertina de seus textos e de sua própria vida, Wilde levou para as platéias do fin de siècle seus temas preferidos: escândalo, decadência, perversão.
Gustav Klimt com o mesmo tema também criou uma obra prima em 1909. Salomé, uma pintura à oleo, que mais tarde foi reproduzida como cartaz para os espetáculos da ópera, hoje se encontra na Galleria d'Arte Moderna em Veneza.
Ao compor a ópera Strauss fugiu da harmonia e usou tonalidades musicais contrastantes para ressaltar as emoções da tragédia.
A montagem de estréia, extremamente erótica, escandalizou a crítica. Atrizes recusaram papeis, teatros se recusaram a apresentá-la.
A historia é bíblica e muito conhecida.
Durante a vida de Cristo, Salomé a belíssima filha adotiva de Herodes se apaixonou pelo apóstolo João Batista. Ela se declarou, se ofereceu a ele, mas foi rejeitada.
Nesta montagem de estréia o cenário era um horrendo calabouço subterrâneo onde João Batista estava preso.
Herodes, padrasto de Salomé, tinha uma enorme atração por ela e um dia ordena que ela dance para ele a dança dos sete véus. Apaixonado ele diz,
- Prometo lhe fazer qualquer vontade.
Ela aceita e dança lascivamente para ele.
Ao retirar o sétimo e último véu ela incendeia o desejo de Herodes.
- Peça. O que você quer Salomé?
- A cabeça de João Batista.
Chocado com o pedido de matar um homem santo, Herodes recua mas Salomé insiste,
- Eu quero a cabeça de João Batista.
Herodes cede, manda decapitar o apóstolo e entrega para Salomé a cabeça de João Batista numa bandeja.
Neste momento a ópera atinge o clímax.
Salomé dança no palco com a cabeça do amado.
Salomé passa a dialogar loucamente com a cabeça de João Batista nas mãos.
A fala é longa, desesperada, dilacerante.
Primeiro ela ri de sua morte, debocha dele.
Depois suplica que lhe olhe, que lhe ame, implora que lhe ouça.
Enlouquecida ela termina por beijá-lo freneticamente na boca, se sujando no sangue do amado.
Herodes manda matá-la.
Duas paixões, duas mortes.
No final do espetáculo o público aplaudiu apoteoticamente. Ovacionado, o elenco voltou 36 vezes ao palco para receber os aplausos.
Strauss e Wilde reuniram brilhantemente Tánatos e Eros na mesma cena, freudianamente juntos no mesmo impulso, dominando um ao outro. Destruindo o sujeito, destruindo o objeto.
Será sempre assim?
Será que precisamos segurar na cabeça decepada de nossos sonhos, beijando o sangue morto de nossos amores?