Freud e Einstein tinham em comum o fato de serem contemporâneos, judeus, de origem e formação alemã e gênios. O que não é pouca coisa.
Os dois se encontraram apenas uma vez e desse único encontro Freud comentou: "Ele entende tanto de Psicanálise quanto eu entendo de Física, de modo que tivemos uma conversa muito agradável".
Nestes tempos de violência, individualismo e crescente stress, a psicanalista Gracia Azevedo se pergunta o que é ser humano hoje?
Atônita com o que ela classifica como o que seria a sociedade do Um a Um ela indaga como substituir esse gozo narcisistico, egocêntrico, de uma sociedade crescentemente superficial.
E arrisca: Talvez se houvesse uma nova corrida pela Felicidade. Mas também pergunta: Há uma demanda para isso? É possível criar essa demanda? A partir do quê?
A grande diferença entre nossa atualidade e qualquer arranjo social/politico anterior é que nossa sociedade se organiza e se estrutura em função do consumo. Isso tem conseqüências sociais, ecológicas, econômicas, financeiras e principalmente psicológicas.
Desta forma Eu, Você, o Outro, também somos objetos a consumir e portanto descartáveis. Tudo parece possível, tudo tem um valor, tudo pode ser comprado, tudo pode e deve ser trocado. Tudo pode ser descartado.
Em 1932 o Instituto Internacional para a Cooperação Intelectual, em Paris, propôs a Einstein que escolhesse uma pessoa para realizar um intercâmbio de pontos de vista. Ele escolheu Freud.
Einstein perguntou:
- Por que a Guerra? ... o homem encerra dentro de si um desejo de ódio e destruição latente. É possível controlar a evolução da mente do homem de modo a torná-lo à prova das psicoses do ódio e da destrutividade?
Freud respondeu:
- É, pois, um princípio geral que os conflitos de interesses entre os homens são resolvidos pelo uso da violência... ocorrem também conflitos de opinião que podem chegar a atingir a mais raras nuanças da abstração e que parecem exigir alguma outra técnica para sua solução... as necessidades cotidianas e os interesses comuns, inevitáveis ali onde pessoas vivem juntas num lugar, tendem, contudo, a proporcionar a essas lutas uma conclusão rápida, e, sob tais condições, existe uma crescente probabilidade de se encontrar uma solução pacífica...
... os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a unir - que denominamos ‘eróticos’, ou ‘sexuais’, com uma deliberada ampliação da concepção popular de ‘sexualidade’ - e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo...
... dessa forma, também o instinto de amor, quando dirigido a um objeto, necessita de alguma contribuição do instinto de domínio, para que obtenha a posse desse objeto. A dificuldade de isolar as duas espécies de instinto em suas manifestações reais, é, na verdade, o que até agora nos impedia de reconhecê-los...
... nosso instinto destrutivo, está em atividade em toda criatura , denominado instinto de morte, ao passo que os instintos eróticos representam o esforço de viver...
... as incontáveis crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam a sua existência e a sua força. A satisfação desses impulsos destrutivos naturalmente é facilitada por sua mistura com outros motivos...
... as incontáveis crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam a sua existência e a sua força. A satisfação desses impulsos destrutivos naturalmente é facilitada por sua mistura com outros motivos...
... o organismo preserva sua própria vida, destruindo uma vida alheia, mas se esse processo vai longe demais é positivamente insano...
... por outro lado, se essas forças se voltam para a destruição no mundo externo, o organismo se aliviará e o efeito deve ser benéfico...
... de nada vale tentar eliminar as inclinações agressivas dos homens... na minha opinião, é uma ilusão.
... nossa teoria dos instintos facilita-nos encontrar a fórmula para métodos indiretos de combate... se o desejo de aderir (à violencia) é um efeito do instinto destrutivo, a recomendação mais evidente será contrapor-lhe o seu antagonista, Eros (o amor)...
Finalizando Freud conclui:
- A Psicanálise não tem motivo porque se envergonhar se nesse ponto fala de Amor, pois a própria religião emprega as mesmas palavras: ‘Ama a teu próximo como a ti mesmo.’
Viena, setembro de 1932.
Há dois mil anos este insigth revolucionário que rompe a estrutura do Ego foi anunciado por Cristo.