Era uma noite claríssima.
Eu caminhava sozinho numa praia quase deserta de Alagoas.
Muito tarde da noite quase não havia outras pessoas na praia, se é que havia alguma. A maré estava muito tranqüila, havia uma leve brisa nos coqueirais. Sentei-me na areia para olhar o Kluso.
Kluso é como os gregos - que como poucos entendem de beleza e poesia - chamam o quebrar das ondas na praia.
As ondas pequenas formavam-se por igual, muito longas e quebravam-se na areia uniformemente. Uma após outra elas se formavam, cresciam, deixavam uma espuma branca na noite e se quebravam.
A sucessão formava um balé suave, o tempo se espreguiçava, parecia que elas iriam se suceder eternamente, sempre assim, sempre desta mesma forma.
Pequenas, longas, uniformes, quebrando por igual, calmamente. Sentei na areia. Alegre, sorrindo, feliz com o cenário.
Olhando para as ondas notei que uma delas cresceu e antes de se quebrar emitiu uma luz extraordinária.
Na sua concavidade, no bojo interno que forma sua própria essência, havia a percorre-la de ponta a ponta um raio de luz branca e brilhante. Rápido, imenso. Em toda sua extensão.
Fiquei atônito.
O raio de luz percorria a onda inteira, completamente, rapidamente, de ponta a ponta. No exato momento em que ela crescia e se formava, antes dela se quebrar.
O efeito era lindo, mas incompreensível. Um Kluso de luz.
Eis que outra onda se forma e o fenômeno se repete. Ela cresce e antes de se quebrar um raio forte e brilhante de luz branca percorre toda sua extensão.
Pensei em muitas coisas.
Podiam ser cardumes de pequenos peixes prateados, podia ser alguma fluorescência de algas, podia ser até uma deusa do mar. Podia ser qualquer coisa.
O fato é que era um espetáculo belíssimo, que eu nunca tinha nem visto nem sequer ouvido falar.
Na noite clara, ondas muito largas, pequenas e muito iguais se quebravam na praia e antes de morrerem soltavam um raio brilhante de luz branca. Um gran finale da própria onda antes de se desfazer, uma celebração dentro dela.
Um adeus de luz.
Um adeus de luz.
Fiquei sentado, extasiado, desfrutando de tamanha beleza, me sentindo privilegiado. Ou pela natureza ou pela deusa que poderia estar me acenando dentro daquelas ondas.
Mesmo desfrutando do espetáculo meu espírito inquieto não sossegava, precisava entender o que poderia estar acontecendo.
Levantei-me, caminhei, fui me aproximar das ondas.
Quando cheguei perto da água do mar os raios de luz desapareceram. Esperei um pouco, as ondas quebravam, molhavam meus pés, a espuma branca se desfazia na areia, mas nada voltou a acontecer.
Se era uma deusa, era vaidosa e não permitia aproximação.
Se era uma deusa, era vaidosa e não permitia aproximação.
Esperei ainda mais um pouco. Nada. O milagre tinha acabado.
Voltei frustrado para onde estava antes, caminhando pela areia de costas para as ondas, lamentando o fim do espetáculo.
Sentei-me novamente.
Assim que me sentei os raios recomeçaram. Quase me assustei. Olhei em volta, não havia mais ninguém, só o coqueiral, a areia imensa, as ondas luminosas e a lua se pondo bem por trás de mim.
O que era aquilo? Que fenômeno era aquele?
Eureka!
Achei. Era isso, a resposta era a lua. Ela, que estava bem baixa e por trás de mim, se refletia na concavidade interna das ondas. Como a superfície forma um espelho côncavo a imagem refletida se contraía e se concentrava num faixo de luz intensa. A luz da lua é que formava aqueles raios luminosos, concentrados, prateados, rápidos, intensos.
Tão intensos quanto fugazes. Como a própria Beleza.
Eureka!
Achei. Era isso, a resposta era a lua. Ela, que estava bem baixa e por trás de mim, se refletia na concavidade interna das ondas. Como a superfície forma um espelho côncavo a imagem refletida se contraía e se concentrava num faixo de luz intensa. A luz da lua é que formava aqueles raios luminosos, concentrados, prateados, rápidos, intensos.
Tão intensos quanto fugazes. Como a própria Beleza.