A década de 60 em Ipanema foi uma
farra, uma explosão de juventude.
Havia a pílula, o rock’n’roll, a
mini-saia, o bikini, os Beatles, o Credence, os Stones, o movimento estudantil, os festivais de
música, o tropicalismo, a imprensa alternativa, os hippies, Hendrix, Joplin, o surf chegando.
Uma festa total e absoluta. Mas que foi sobretudo
uma imensa farra sexual. As meninas acordaram, acordaram
cedo e acordaram com muita, muita vontade.
Muitas meninas de 14 anos se
envergonhavam de serem virgens. Era “careta” ser virgem. Muitas que estavam sem
namorado pediam aos amigos para lhes livrarem do problema, para não ficarem para trás
das amigas.
Os rapazes já não precisavam mais
dos favores das domésticas, das empregadinhas, das graxeiras. Graxeira, usado
ora como substantivo ora como adjetivo foi um neologismo de origem curiosa. Ao
fim da tarde começo da noite as domésticas, terminado o serviço, se arrumavam e ficavam na
porta das casas ou dos prédios, conversando, encostadas nos muros que em geral
tinham plantados os hibiscos, a rosa-sinensis, as graxas-de-estudante. Deste
hábito surgiu o genérico graxeira. As provedoras de favores aos filhos das
patroas.
Mas as garotas de dentro das
casas acordaram, se soltaram, invadiram a praia das graxeiras. Os rapazes
adoraram. Alguns se assustaram com tamanha liberalidade das irmãs e primas. No
final a farra se instaurou na Republica Independente de Ipanema que tinha
justamente numa garota seu símbolo.
Havia algumas farmácias que
vendiam a pílula mágica para menores. Os farmacêuticos se rendiam ao inevitável sabiamente dizendo que era melhor liberar que estragar a juventude das meninas.
Novulon vendia como pipoca. Quando as mães descobriam aquela
caixinha redonda e azul era um escândalo. Rendia umas lágrimas e a farra
continuava.
Morando na Nascimento Silva quase
esquina da Montenegro, hoje Vinícius de Moraes, minha praia era ali mesmo em
frente. Pra quem não sabe todo carioca tem sua praia, é fixa, não muda, não
pode nem deve mudar. É questão social, cultural. Mudar de praia é mais que um
transtorno é uma traição aos amigos. Quem muda de praia é pouco menos que um
pária.
Lá na praia havia uma lenda viva.
El Aríete. Um cara bonito, aí de uns quarenta anos, pai de um grande amigo meu o
Josetti.
O pai do Josetti era realmente
bonito. Alto, forte, atlético, apesar de funcionário do Banco do Brasil também
era modelo da Ducal, uma loja de roupas masculinas. O cara estava sempre nas
páginas dos jornais em publicidades de ternos. Mas o que ele realmente gostava
de usar era short de praia. Simpático e bronzeado o cara era fera no vôlei de
praia. As meninas babavam assistindo as partidas.
Ele adorava. Louco por uma menininha, numa
época em que virgindade tinha se transformado em problema ele contribuía para a
solução. A praia retribuiu com um apelido. El Aríete.
O cara realmente tava traçando a praia toda, perigava chegar ao Leblon. Meu amigo Josetti, apesar do justo orgulho, era até meio traumatizado,
– Pô, meu pai já comeu metade da praia! Quando você se interessa em namorar uma menina descobre que seu pai já comeu. Assim não dá!