Gorbatchov e a Ameaça Nuclear

Mais de vinte anos se passaram desde o fim do império soviético. Uma das mais fascinantes experiências sociais da História tanto pela velocidade de instalação quanto de dissolução, pela extensão, poder alcançado e paixões que despertou.

Tantos anos depois e com tantos trabalhos publicados ainda não existe consenso sobre o que levou ao fracasso e à queda rápida e definitiva dos regimes socialistas. No ano das revoluções décadas ruíram em semanas. Há algumas razões comumente aceitas:
  1 A natureza totalitária dos regimes.
  2 A imensa burocracia centralizadora e paralisante.
  3 O secretismo dos regimes.
  4 A queda dos preços do petróleo na década de 80 que sustentava a economia da Rússia.
  5 As enormes dívidas externas dos países satélites.
  6 A desastrosa guerra no Afeganistão.
  7 A enorme extensão territorial e diversidade dos componentes.
  8 O atraso tecnológico em relação ao Ocidente.
  9 A corrida armamentista.
10 A velocidade nas reformas da Perestroika.

O melhor entendimento só virá com o tempo, duas décadas em termos históricos não é nada.
Uma coisa é certa. A figura central e simbólica deste processo é Mikhail Gorbatchov. É justamente em 25 de dezembro 1991 o dia de sua renúncia como líder do regime que se fixou a data do fim do império soviético.
Gorbie despertou e desperta opiniões contraditórias. Não poderia ser diferente tamanha a magnitude de suas decisões e suas conseqüências. Dos personagens principais envolvidos nenhum tem a trágica grandeza humana dele. E não foram poucos nem pequenos.
Margareth Thatcher, Ronald Reagan, Lech Walesa e o papa João Paulo II. A filha de um dono de mercearia, um ator canastrão, um eletricista desempregado e um padre ex-guerrilheiro assumiram dramáticas dimensões que mudaram o destino da Humanidade. Mas nenhum deles com a complexidade e a coragem moral de Gorbatchov.

O desastre de Chernobyl é um dos fatos marcantes neste processo.
A explosão às 1h23m do sábado 26 de abril de 1986 no reator 4 da usina nuclear em Pripyat na Ucrânia iniciou o maior desastre atômico da História.
A cúpula da sala do reator foi pelos ares, chamas e partículas de grafite altamente radioativas foram lançadas a 1.200 metros de altura. A primeira explosão liberou níveis de radioatividade dez vezes maiores que a bomba de Hiroshima. Quatro segundos depois outra explosão demoliu duas paredes da usina. A nuvem radioativa começou a se espalhar pelo continente à partir da Europa Central, a contaminação chegou à Escandinávia. O incêndio na usina se prolongou por dias.

Níveis de radiação de 6 a 150 vezes maiores que o normal foram detectados a milhares de quilômetros do epicentro da explosão. Em três anos centenas de pessoas morreram de câncer e leucemia e muitas mais nas décadas seguintes. A cidade e a região ficaram devastadas e permanecem completamente abandonadas. Mutações genéticas acontecem até hoje.
Chernobyl foi o Armagedon localizado que imprimiu em Gorbatchov a dimensão do que seria o Apocalipse nuclear se a corrida armamentista fosse até às últimas conseqüências. Isso o marcou definitivamente.

Algum tempo depois do acidente Gorbatchov participava de um exercício simulado.
Na sala de jogos de guerra estava o alto comando político e militar soviético. Durante o exercício chegou o momento  de reagir a um ataque americano. Um enorme painel emitia sinais de aviso: mísseis nucleares foram disparados contra a União Soviética. Gorbatchov não reagiu.
O tempo passava. O painel disparava dramaticamente informações sobre a direção, velocidade, posição e aproximação dos mísseis. Os minutos se passavam a tragédia era iminente.
Todos olhavam para Gorbatchov. Mais informações eram emitidas pelos painéis, mais luzes de alerta piscavam, mais sinais sonoros estridentes disparavam.

Todos olhavam para Gorbatchov e para o botão que ele deveria apertar para retaliar o ataque.
- Não. Não vou apertar este botão. Nem mesmo para fins de treinamento.
Thanks Gorbie.