Eindhoven é uma cidade no sul da Holanda fundada em 1891 por Anton e Gerard Philips, criadores da multinacional de eletrônicos Philips. Eles fundaram a cidade para ser o centro da empresa e um pólo de desenvolvimento tecnológico e econômico.
E foi o que realmente aconteceu, a cidade hoje é um importante centro industrial, de serviços e de pesquisa. Anton era um visionário capitalista, primo distante e amigo imagine de quem: Karl Marx.
No museu de Eindhoven existe um exemplar raro do Das Kapital, a obra fundamental do marxismo, autografada e oferecida a Anton, um grande capitalista, por Marx, um grande marxista.
Gente fina é outra coisa.
Tenho um grande amigo holandês, o Gary Bergman que nasceu e mora em Eindhoven.
Até aqui tudo bem, mas agora entra em cena o João Ubaldo Ribeiro e seu romance histórico Viva o Povo Brasileiro de 1981. Entre outras coisas João Ubaldo conta que na Ilha de Itaparica, na Baía de Todos os Santos, havia uma tribo de canibais. O detalhe delicioso é que o chefe desta tribo além de canibal também era um gourmet. Ele não gostava de qualquer carne.
Até aqui tudo bem, mas agora entra em cena o João Ubaldo Ribeiro e seu romance histórico Viva o Povo Brasileiro de 1981. Entre outras coisas João Ubaldo conta que na Ilha de Itaparica, na Baía de Todos os Santos, havia uma tribo de canibais. O detalhe delicioso é que o chefe desta tribo além de canibal também era um gourmet. Ele não gostava de qualquer carne.
A dos espanhóis achava azeda. Também não gostava da carne dos portugueses que achava gordurosa. Seu delicado paladar preferia carne de holandeses. Um canibal refinado, um gourmet.
Por conta desta sofisticação gastronômica ele guardava seus prisioneiros holandeses para ocasiões especiais. Mantinha-os presos e os engordava. Além disso ele tinha preferências especiais: o que ele gostava mesmo era das pernas. Fazia com elas uns presuntos defumados muito especiais, deliciosos. Uma espécie de Parma tupiniquim.
Mas como tudo no Brasil termina em samba, aconteceu que um desses holandeses que estava sendo engordado para uma ocasião especial acabou sendo alvo da paixão da filha do chefe. A indiazinha de tanto alimentar o holandês em seu cativeiro, de tanto conviver com ele se apaixonou pelo alimento, digo pelo pobre rapaz.
Um dia ela acabou implorando ao pai que não o comesse,
- Papai por favor não coma este. Deixe-o para mim.
Gary e eu estávamos em um restaurante charmosíssimo numa pequena vila próximo de Eindhoven. Uma casa pequena e antiga onde havia morado uma namorada do pintor impressionista Vincent van Gogh. Tomávamos uns uísques antes de jantar, conversávamos sobre a obra de Van Gogh, do namoro conturbado dele com a antiga dona da casa.
Gary muda de assunto:
Gary muda de assunto:
- Houve um período curto de colonização holandesa no Brasil?
- Sim, é verdade Gary, curtíssimo. Foram menos de vinte e cinco anos. De maior importância foram apenas sete anos, durante o período de Nassau.
- Esta presença ainda é lembrada?
- Em algumas regiões do nordeste do Brasil ela chega a ser admirada.
- Então os brasileiros gostam dos holandeses?
- Sim, muito. Muito mais do que você possa imaginar.
- Sim, muito. Muito mais do que você possa imaginar.
Com nossos cardápios nas mãos, enquanto escolhíamos os pedidos, contei-lhe a história dos presuntos holandeses de Itaparica,
- Como você pode ver nós brasileiros gostamos muito de holandeses.
Gary engoliu em seco:
- Perdi a fome.