Dois de Julho, uma data histórica da maior importância. Não apenas por ser a data da Independência da Bahia mas por ser a data da última batalha pela independência do Brasil, a data onde ela realmente foi conquistada. Conquistada com competência surpreendente na Batalha de Pirajá.
O Sete de Setembro é o dia do Grito da Independência, e é exatamente isso, um grito, uma declaração de intenção. O Sete de Setembro marca o fim de um processo que se iniciou num acordo entre pai e filho quando D. João VI voltou a Portugal deixando o filho Pedro por aqui, literalmente na esbórnia, iniciando o processo de separação. Processo que teve um preço. Um alto preço em dinheiro.
D. João VI, ao voltar para Portugal em 1821, raspou os cofres do Banco do Brasil, emissor de moeda e banco central, quebrando-o e levando a seu fechamento em poucos anos. O banco só seria refundado pelo Visconde de Mauá em 1851.
O Brasil começava quebrado.
D. João VI, ao voltar para Portugal em 1821, raspou os cofres do Banco do Brasil, emissor de moeda e banco central, quebrando-o e levando a seu fechamento em poucos anos. O banco só seria refundado pelo Visconde de Mauá em 1851.
O Brasil começava quebrado.
Depois o filho assumiu uma dívida do pai. Uma enorme dívida com a Inglaterra. O Brasil pagava a conta que os ingleses cobraram por defender Portugal das tropas de Napoleão quando o rei, rainha, filhos e toda a corte abandonaram o país fugindo para o Brasil, em navios escoltados pelos ingleses.
O Brasil começava devendo.
Mais alguns anos depois em 1828 o Brasil entregava um enorme território para a formação do Uruguai. A Inglaterra precisava de um país tampão entre o Brasil e a Argentina que garantisse a livre navegação de sua frota no Rio da Prata. Yes Mr. Canning, no problem, do you want more?
Um pouco mais adiante em 1864, aparentemente para defender os interesses industriais da Inglaterra, o Brasil fez o trabalho sujo, arrasou o mais moderno e industrializado país da America do Sul cometendo na Guerra do Paraguai um dos maiores genocídios da História. Morreram 76% da população, 96% dos homens adultos do Paraguai foram dizimados. O Holocausto foi menor.
Ao fim do conflito o Brasil estava tremendamente endividado com a Inglaterra que financiou a guerra. Aqui começava a perene dívida externa brasileira que só recentemente foi internalizada por orientação do FMI.
O Brasil começava obediente.
Voltando à Independência.
Gritar independência ou morte não significava necessariamente obter a primeira. O Brasil tentava começar literalmente no grito. As tropas portuguesas que estavam no país não aceitaram que um simples grito resolvesse o problema e partiram para a segunda parte. Reagiram e começaram a guerra da independência, com muitas mortes. A última batalha aconteceu dez meses depois em Pirajá no Dois de Julho de 1823.
Existem poucas coisas mais baianas, mais simbólicas que o Hino do Nosso Senhor do Bonfim. No começo, logo na primeira estrofe, com ardor cívico e religioso se louva e se dá,
Glória a ti neste dia de glória
Glória a ti Redentor que há cem anos
Nossos pais conduziste à vitória
Pelos mares e campos baianos
A imagem do Nosso Senhor do Bonfim é única, não tem clones que saem peregrinando como outras famosas como a de Nossa Senhora de Fátima. A imagem também nunca sai da igreja. Para ser exato a imagem só saiu da Colina Sagrada apenas duas vezes. Numa delas, durante as batalhas da independência, o Redentor da Bahia saiu do altar para abençoar as tropas.
As tropas portuguesas.
Corneta Lopes é o herói definitivo da Independência. Esqueçam as heroínas Maria Quitéria e Joana Angélica os dois maiores homens da Bahia. Lopes é o cara.
A ação do corneteiro foi decisiva para a vitória dos brasileiros na última batalha da independência. As tropas estavam exaustas, em desvantagem, sofrendo enormes baixas e começando a perder a batalha para os portugueses. O comandante brasileiro, por sinal um mercenário francês, Pierre Labatut, estava diante da derrota total sem chance nem mesmo de tentar uma rendição.
Na época as ordens para as tropas eram dadas por toques de corneta. Há toques para movimentos para a direita, esquerda, de recuo, de avanço, de ataque, etc.
O major José Falcão se antecipa ao comandante e resolve, num ato desesperado, salvar algumas vidas dando o toque de debandar. Ele ordena que lhe tragam o corneteiro.
Mas até o corneteiro já havia morrido. Ele ordena que lhe tragam outro, que lhe trouxessem qualquer um que soubesse tocar corneta. Trazem-lhe o Luiz Lopes. O major ordena que Lopes vá ao campo de batalha e dê o toque de Fugir e Debandar.
Mas até o corneteiro já havia morrido. Ele ordena que lhe tragam outro, que lhe trouxessem qualquer um que soubesse tocar corneta. Trazem-lhe o Luiz Lopes. O major ordena que Lopes vá ao campo de batalha e dê o toque de Fugir e Debandar.
Lopes obedece. Lopes vai ao campo de batalha. Lopes toca a corneta. Lopes toca o único toque que conhecia. Lopes toca Cavalaria avançar e Degolar.
Madeira, o comandante português, ao ouvir o toque terrível conclui que as tropas brasileiras receberam reforços e desesperado ordena a seu próprio corneteiro que dê o toque de Fugir e Debandar. Os portugueses ouvem, obedecem e fogem desabalados. Vitória brasileira.
Assim chegava ao fim a última e decisiva batalha pela Independência do Brasil. Thanks Lopes, como é bom saber tocar um instrumento.
O Brasil começava assim, De Gaulle tinha razão.
Assim chegava ao fim a última e decisiva batalha pela Independência do Brasil. Thanks Lopes, como é bom saber tocar um instrumento.
O Brasil começava assim, De Gaulle tinha razão.