Iansã e o papa João Paulo II.

A Bahia é terra de muitos santos, divindades, de muitos mistérios.
Assim como a maioria das pessoas sabe seu signo de horóscopo todo baiano sabe qual é seu santo no Candomblé. Pode não seguir todos os preceitos mas sabe qual é seu santo, qual o dono de sua cabeça.

Na visita ao Brasil o papa João Paulo II esteve em Salvador.
Na terça-feira 7 de Julho de 1980 ele rezou uma missa campal para meio milhão de pessoas. Mas não tomou os devidos cuidados. Foi temerário. O papa não se apresentou, não pediu licença aos santos da terra.
A cidade se preparou para a grande cerimônia. Palanques foram armados numa grande área ao ar livre no Centro Administrativo. Se preparou a logística, a segurança, os sistemas de eletricidade e sonorização. Mas esqueceu-se do principal. Um estranho não chega, não entra numa casa sem pedir licença. O papa esqueceu que estava na Bahia. Cometeu um insanidade. Foi castigado.

Centenas de ônibus com gente vida de todo o Estado e estados vizinhos tinham chegado. Milhares esperavam pelo sumo-pontífice, por sua missa, por sua benção. Uma loucura estava para ser cometida. Aproxima-se o momento da missa. O helicóptero do papa estava pronto para decolar da Base Aérea de Salvador em direção ao local.
Iansã, Rainha do Raios e dos Trovões, sempre muito emotiva, estava furiosa com o desacato.

Inesperadamente ouvem-se trovões, o povo se assusta. O céu escurece. Raios cortam os céus. Desaba um temporal. A tempestade se espalha. Relâmpagos iluminam o rosto apavorado das pessoas.
O papa ainda está na base Aérea. Ele entra no helicóptero. O helicóptero tem dificuldades para decolar. Na área da missa a fúria da tempestade castiga milhares de pessoas. Instalações elétricas entram em curto circuito. A Rainha dos Raios mostra sua fúria. As pessoas temem por suas vidas. Pânico na multidão.
Iansã é mãe bondosa, mas não perdoa insultos, não tolera afrontas. A multidão assustada entende sua ira. Palanques desabam, as pessoas correm, gritam, rezam. Olham para os céus. Pedem perdão.

Iansã se acalma, a chuva diminui, já não se ouvem seus trovões, já não se vêm seus raios e relâmpagos. O helicóptero do papa finalmente consegue pousar com muita dificuldade. Iansã se compadece, cessa a tempestade, o céu se abre. Permite a cerimônia, mas deixa o aviso. 
Irmã Dulce, hoje beatificada, estava no local. Adoeceu, contraiu uma pneumonia. O cirurgião Taciano Campos, diretor do Hospital Santo Antônio acompanhou a internação que durou vinte dias.
O recado estava dado. Na terra de todos os santos com eles não se brinca.