Fazem algumas décadas que o executivo Franz Stangl deixou o Brasil.
Franz que trabalhou durante os anos pioneiros da Volkswagen é um dos responsáveis pela implantação da indústria automobilística no Brasil. Excelente administrador, engenheiro brilhante, ele foi reconhecido diversas vezes por sua competência na organização de processos industriais e de produção em massa.
Impecável, elegante, Franz era amável, extremamente polido. Muito respeitado sempre se destacou pela forma meticulosa, disciplinada e eficiente com que conduziu todos seus projetos profissionais. Seu primeiro desafio foi como Superintendente do T-4 Euthanasia Programme no Schloss Hartheim. Com incomparável eficiência ele liquidou com a quase totalidade dos deficientes físicos e mentais da Alemanha nazista.
Admiravelmente bem sucedido ele foi promovido a Kommandant do campo de concentração de Sobibor e depois do Campo de Treblinka. Chegando a Treblinka ele encontrou o campo com problemas operacionais nas câmaras de gás, sempre apresentando defeitos, além de problemas de logística na chegada, liberação e manuseio dos trens de carga. Rapidamente ele organizou, sistematizou, todos os detalhes do processo que se transformou em modelo de eficiência operacional. Quando Stangl foi premiado como o melhor comandante de campos alemães, ele disse,
- Transformei Treblinka num local especial com jardins bem cuidados, novos alojamentos, cozinhas novas, alfaiates, sapateiros e carpinteiros.
Com extraordinário senso de organização ele criou em Treblinka um processo rigoroso e preciso onde as cargas chegavam de trem pela manhã, eram classificadas, despachadas e processadas em questão de horas. Stangl atingiu a incrível marca de 99% de finalização de processo em no máximo duas horas.
Antes do final da tarde o ciclo operacional já estava totalmente finalizado e o campo sem resíduos. Stangl sempre vestido impecavelmente com roupas brancas de equitação inspecionava as instalações. Depois montado em seu cavalo, também branco, ele verificava os jardins e preparava Treblinka para mais um dia de trabalho.
Afável, dava as últimas ordens ao pessoal administrativo antes de voltar para casa onde mantinha a família. Cuidadoso, ele morava em uma vila a alguns quilômetros de distância do campo para que nenhum odor de gás, material queimado ou fumaça incomodasse a família. Artista sensível, nestes fins de tarde ele tocava cítara, como fazia desde a juventude.
Terminadas as hostilidades Hans Stangl deixou a Alemanha após pequenas dificuldades. Viajou através da Áustria utilizando documentos legais, passaporte da Cruz Vermelha e visto para a Síria que lhe foram facilitados pelo Vaticano através do bispo católico austríaco Aloïs Hudal.
Após implantar e trabalhar durante três anos em instalações industriais têxteis na Síria Franz mudou-se para o Brasil.
Na Volkswagem de São Bernardo do Campo Franz foi sempre muito admirado, tanto pela direção quanto pelos funcionários, por sua capacidade de liderança, extrema eficiência e organização. Franz sempre polido, gentil e amigável raramente se irritava. Quando isso acontecia dizia secamente,
- Sieht aus wie Sie flüchtete das Programm - parece que você escapou do Programa.
Apesar de bem sucedido como administrador e engenheiro de produção na Volkswagen do Brasil ele teve a carreira bruscamente interrompida quando foi inesperadamente extraditado em 1967 para a Alemanha. Franz Stangl foi julgado e condenado pela morte de 900 mil pessoas em Treblinka e mais 100 mil em Sobibor.
A Volswagem do Brasil só atingiria uma produção nesta ordem de grandeza muitos anos depois.