Dom Abade de Olinda.
Do mosteiro beneditino, o São Bento de Olinda. Dom Abade
como quase todo beneditino era um homem de mente aberta, refinado, culto.
Estimulava seus pares pelo gosto pela Arte. Vivendo cercado
de obras primas cuidava bem delas, era como um curador, zeloso de um
mosteiro que tem acervo de museu. Apenas o altar é uma das maiores obras
primas do Barroco mundial.
Refinado, ele fez de seu coral um dos melhores do canto
Gregoriano. Gourmet, ele exigia da cozinha uma qualidade acima do comum. Seis refeições diárias, das matinas à ceia.
Intelectual, ele mantinha a biblioteca do mosteiro sempre
atualizada, rica, eclética.
Dom Abade exercia o cristianismo em sua mais pura e humana forma.
Nos tempos de chumbo da ditadura protegeu os perseguidos, defendeu, lutou por
eles. Sofisticado, frequentava a elite local. Altivo, elegante, bonito, incendiava a imaginação das socialites.
Mas Dom Abade tinha uma fraqueza e um pecado. Não era um
santo, era um homem.
Tinha uma fraqueza por viagens. Todo ano fazia um tour, às vezes dois, pelos mosteiros
beneditinos da Europa. Preferia os da França, da Itália, da Alemanha. Se hospedava como um nobre. Um príncipe da Igreja.
Também pecava. Nas suas viagens européias, sempre reservava uns dias para
ficar em Londres. Colocava umas botinhas tipo Beatles, uma calça justa branca,
uma camisa vermelha e ia incógnito paquerar nas noites de Piccadilly Circus.
Depois se arrependia, seu deus perdoava.