Pastel de Feira

Fui com amigos a uma feira em Sampa saborear um dos achados gastronômicos de rua da cidade, o Pastel de Feira.
Uma delícia como quase todas as comidas de rua mundo afora. Além da receita tradicional de carne há dezenas de variações. O único problema é o tamanho, enorme. O jeito é pedir o mini, que na verdade é de um tamanho digamos assim, normal.

Sábado ensolarado, fomos a uma feira na Liberdade tradicionalmente um bairro japonês da Paulicéia. O encanto não é apenas o pastel de feira, é a própria feira. Ou mais precisamente quem está na feira.
Naturalmente há muitos japoneses e os mais recentes nordestinos. Vê-se de tudo nesta terra brasilis por excelência. Recém chegados ou descendentes de coreanos, chineses e italianos. Gente morena e gente muito branca. Narizes judeus, olhos asiáticos, peles africanas, brancuras arianas, texturas indianas, rostos eslavos.
E certamente chama atenção a miscigenação de tudo isso, numa mistura bonita, sexy, pacífica, inspiradora. Fundamentalmente humana, desvairadamente humana. Muito além da mistura básica de português, índio e negro que começou esta babel brasileira. Muito além dos horizontes de preconceitos que fazem sangrar outras terras.

Roddenberry iria adorar essa receita de Freyre servida na casa de Oswald.
É exatamente nisso que está o encanto desta megalópole improvável, surpreendente, instigante. Todas essas raças e etnias prosaicamente comendo pastel de feira num sábado ensolarado, no lado de baixo do equador. Não há como não se emocionar com esta probabilidade que aqui é real de ver judeus, palestinos e alemães comendo juntos e em paz um banal pastel de feira.

Mas me aconteceu algo mais, algo muito maior.
De repente vejo mulheres muçulmanas, de vestidos longos e véus na cabeça andando na feira. Lembro então que a França, berço da libertè, egalitè e fraternitè, proibiu as mulheres de usarem véu, hijab, niqab, chador ou burca. Mas aqui, enquanto como um simples pastel de feira, numa despretensiosa feira de Sampa, vejo toda essa gente diversa em harmonia.
Ainda bem que o dia estava ensolarado e eu de óculos escuros.