Ai dos Fumantes

Toda sociedade tem uma dose de intolerância latente que se volta para alvos variáveis. É histórico e estes alvos mudam, ora são os judeus, os ciganos, os imigrantes, os estrangeiros, os negros, os homossexuais, os diferentes em geral. Agora é a vez dos fumantes.

Discriminados, muitas vezes agredidos verbalmente, os fumantes são agredidos em seus direitos básicos de cidadãos.
Não estou nem de longe defendendo o cigarro. As campanhas antitabagistas devem continuar e o vício deve ser evitado. O foco aqui não é o fumo, mas os direitos dos fumantes.
Nunca se viu uma pessoa por estar sob o efeito do cigarro dirigir um carro perigosamente, cometer violências ou matar. Já o alcoolismo é tolerado. O consumo de álcool é incentivado.
As campanhas anti-fumo estão corretas, mas a crescente intolerância é inaceitável e eticamente extremamente mais grave que fumar um cigarro.

No Mali a situação política está explosiva.
Os rebeldes muçulmanos estão incendiando o país, há uma guerra civil sangrenta destruindo a nação. A França interveio militarmente, outros países estão se envolvendo. Há o perigo da França repetir sua intervenção na então Indochina que depois levou à Guerra do Vietnã americana.

No norte do Mali, em Novembro do ano passado, uma dissidência da Al Qaeda, chamada Movimento pela Tawhid, a Jihad, a guerra santa da África Ocidental, reuniu um grupo no mercado da cidade de Gao.
Um homem acusado de fumar foi escoltado pelos muçulmanos diante da multidão. Na frente de todos deceparam a mão dele. A mão decepada foi atirada num tonel de água fervente. Imobilizaram o homem. Tiraram a mão retorcida do tonel. Voltaram-se para o homem mutilado que sangrava. Durante uma hora a mão deformada foi costurada de volta ao toco do homem.
Ahmed, um açougueiro que relatou o ocorrido para repórteres, que o The Observer inglês publicou, no dia seguinte fugiu da cidade aterrorizado.

Barbárie islâmica? Sim, com certeza. Mas a intolerância é exatamente a mesma.