Durante o período em que estudei Medicina dei plantões na maternidade do Hospital Manoel Vitorino em Salvador durante dois anos. Adorava fazer partos. Dava meus próprios plantões e ainda cobria alguns colegas. Às vezes passava três dias seguidos no Hospital.
Meu dia era o de Quarta-Feira no plantão de Dr. Manoel Bonfim, um dos melhores obstetras da cidade, catedrático da universidade e professor visitante de uma universidade americana. Bonfinzinho gostava muito de mim, me ensinava tudo, confiava muito e praticamente me entregou o plantão.
- Só me chame se for absolutamente necessário.
As instalações eram muito boas, confortáveis e tinham uma atração improvável. O hospital tinha uma Chef excelente. Havia especialidades dela famosas no meio médico, as moquecas, a feijoada, a bacalhoada, o pernil de porco com feijão tropeiro. O diretor, que era seu fã, liberava o orçamento da cozinha. Um restaurante gourmet, de culinária regional, dentro de um hospital público.
Sexta-feira era o dia de um cozido considerado um dos melhores da cidade. O restaurante do hospital ficava abarrotado do pessoal da casa e pasme, de seus convidados.
Eu fazia partos e mais partos, devo ter feito mais de 500, com o maior prazer. As pacientes me adoravam, eu gostava muito do que fazia, era atencioso, paciente e carinhoso com elas. Fascinado com o milagre de ver uma vida nascer em minhas mãos. Obstetrícia é uma especialidade privilegiada que lida mais com a vida do que com a morte. Esse era o fascínio.
Certo dia fiz o parto de uma moça jovem e bonita. Muito simpática, alegre, tinha menos de trinta anos, era plurigesta, já estava no quinto filho. Todos os partos anteriores tinham sido naturais, as episiotomias e episiorafias tinham sido feitas sem muito cuidado, a musculatura do períneo estava bastante comprometida. Enlarguecida, muito aberta. Uma pena numa mulher tão jovem.
Depois do parto lhe disse que, apesar do procedimento não ser permitido, eu iria lhe fazer uma episioplastia, uma plástica de reconstituição vaginal. Um serviço que o hospital por ser publico não oferecia. Pedi que ela voltasse dentro de um mês.
Um mês depois ela voltou. Brinquei, perguntei de que “tamanho” era o marido. Ela disse normal. Perguntei se era normal grande ou normal pequeno. Ela riu meio sem graça e fez um gesto com as mãos. Fiz a plástica.
Fiz com cuidado e paciência, reconstituí o períneo o melhor que pude. Apesar de não ser necessário, um verdadeiro exagero, suturei a camada cutânea com fio seis de cirurgia plástica, para não ficar nem mesmo uma leve cicatriz. A moça ficou quase virgem. Terminei, recomendei que não “brincasse” por quatro semanas e ela foi embora agradecida.
Uns dois meses depois uma enfermeira me chama dizendo que havia uma mulher na recepção me procurando, querendo falar comigo. Fui até lá. Era uma mulher jovem, bonita, que não reconheci imediatamente. Ela se aproxima sorridente com um presente nas mãos. Era a moça da episioplastia.
- Doutor o senhor salvou meu casamento. Meu marido não parava em casa, saía toda noite, chegava tarde. Agora não me dá sossego.