Tenho uma prima homossexual.
Somos amigos de infância, temos um carinho enorme um pelo outro e depois de tantos anos continuamos muito amigos, desfrutamos de uma intimidade rara. Enfim, adoro ela.
E ela me fez este elogio supremo: se eu gostasse de homem eu namorava com você.
Mas é de minha mãe que quero falar.
Mamãe era uma pessoa super tradicional, com valores familiares rigorosos. Muito religiosa, mariana ao extremo, tão devota de N.Sra. de Fátima a ponto de eu ter padrinho mas não madrinha. Comungava praticamente todos os dias. Eticamente era de um rigor extremo, intolerante com qualquer desvio de conduta. Mas apesar disso uma pessoa unanimemente considerada como doce. E efetivamente o era.
Eis que aquela minha prima, sobrinha de minha mãe, vem passar umas férias em nossa casa. E viria com a companheira. Eu e meu pai ficamos tensos com a reação que minha mãe poderia ter recebendo um casal homossexual em nossa casa. Mas nem sequer tivemos coragem de tocar no assunto.
Isso há mais de quarenta anos quando não havia o politicamente correto nem muito menos a tolerância com homossexuais como hoje existe. Nos preparamos para qualquer que fosse a reação dela.
Minha prima viria e pronto.
E veio, passou quase um mês lá em casa.
Quando o casal chegou minha mãe as recebeu com toda a cortesia. Até aí eu e meu pai não estranhamos pois minha mãe era muito educada, e continuamos muito tensos.
Após os primeiros minutos de recepção, como foram de viagem essas coisas, eis que chega a hora de mostrar, de levar o casal para o quarto onde elas iriam ficar.
Minha mãe as conduziu e quando lhes abriu a porta eu e meu pai ficamos boquiabertos. Ela, sem que tivéssemos percebido, havia substituído as duas camas que lá havia e colocado uma cama de casal no quarto.
Minha prima viu a cama, voltou-se para minha mãe, olhou para ela e deu-lhe um longo e silencioso abraço. Minha mãe como sempre ficou com os olhos marejados.
Acho que até eu fiquei.