A Espanha não existe.
Não como um país homogêneo tal como a noção que temos de país-nacionalidade, nem cultural nem politicamente. A Espanha é um Estado de Autonomias formalmente unitário que funciona como uma federação descentralizada, muito mais que o sistema federativo americano ou o pseudo-federativo brasileiro.
As regiões autônomas espanholas são autônomas mesmo, e muito. Algumas são brutalmente separatistas e com forte sentimento nacionalista.
Muitas regiões têm suas próprias línguas como o espanhol, catalão, basco e galego, além de dialetos como aragonês e asturiano. Em algumas regiões fala-se até português. A Galícia inclusive faz parte como observadora da comissão de países de língua oficial portuguesa.
As rivalidades internas são tão grandes que há multinacionais que precisam ter duas sedes nacionais, uma em Madri e outra em Barcelona. Um amigo que foi diretor de marketing da FIAT me contava que as reuniões da diretoria eram alternadamente numa cidade e na outra para evitar ressentimentos. E pior: quando a reunião era em Madrid os carros dos colegas de Barcelona apareciam riscados, e vice-versa.
A autonomia é tanta que há regiões como a Catalunha que têm seu próprio Ministério das Finanças e pasme seu próprio Ministério da Guerra.
E é de lá da terra Gaudí e Picasso que chegam péssimas notícias para o cenário já conturbado da economia européia. A região mais rica e a força motriz da economia da Espanha está quebrada.
Parece até maldição grega.
A Catalunha tem dívidas bem acima de 42 bilhões de euros e se ela apelar ao governo central a margem de manobra financeira do governo espanhol vai pro espaço. Depois de Valência e Múrcia a Catalunha deverá em breve pedir resgate.
Madri não tem de onde tirar dinheiro. O governo central precisa reduzir um buraco de 65 bilhões de euros no orçamento e atingir um déficit de no máximo 2,8% do PIB até 2014.
Apesar das reformas no serviço público, redução do seguro-desemprego e aumento do IVA de 18% para 21% o país não conseguirá sair sozinho da crise da dívida nem arrecadar recursos suficientes.
O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy deverá anunciar reajustes e novos pacotes de maldades, numa situação nacional de greves constantes onde até os bombeiros protestaram tirando a roupa numa situação bizarra se comparada com as deliciosas ucranianas.
Até parece maldição grega.
A crise bem entendido, não as bundas dos bombeiros, que como dizem as más línguas lusitanas "ó pá, estes gajos parecem ter fogo é no rabo".