Salvador nos Séculos XVIII e XIX

Maria Graham, viajante inglesa, chegando em Salvador em 1821:
“Esta manhã, ao raiar da aurora, meus olhos abriram-se diante de um dos mais belos espetáculos que jamais contemplei. Uma cidade magnífica de aspecto, vista do mar, está colocada ao longo de uma cumeeira e na declividade de uma alta e íngreme montanha.
Uma vegetação riquíssima surge entremeada com as claras construções e além da cidade estende-se até o extremo da terra, onde ficam a pitoresca igreja e o Convento de Santo Antonio da Barra.
Aqui e ali o solo vermelho vivo harmoniza-se com o telhado das casas. O pitoresco dos fortes, o movimento do embarque, os morros que se esfumam à distancia e a própria forma da baía, com suas ilhas e promontórios, tudo completa um panorama encantador.
Depois há uma fresca brisa marítima que dá ânimo para aprecia-la, não obstante o clima tropical.”

Charles Darwin, depois de passar um dia em Salvador em 1832:
"A elegância da relva
A beleza das flores
O verde luzidio
E acima de tudo a exuberância da vegetação
Foram para mim motivo de uma contemplação maravilhada
Um dia como esse traz a sensação de que jamais se poderá ou talvez experimentar tão grande prazer.”

Salvador na época já se caracterizava pelas muitas procissões e festas que misturavam rituais sagrados e profanos.

Gentil de La Barinais em 1718:
“O vice-rei dançava diante do altar-mor em honra de São Gonçalo do Amarante. Ele se chacoalhava de forma violenta, que não convinha nem à sua idade nem à sua posição.”
Também era notório que "...a grande miscigenação entre homens brancos e mulheres de cor...é um obstáculo para o caminho de uma vida de família..."

Havia muitos escravos forros vagando pelas ruas e praças à procura de algum trabalho pra ganhar uns vinténs. Enquanto não aparecia, jogavam capoeira, tocavam berimbau, cantavam.
A cidade era lotada de escravas de ganho que passavam o dia pelas ruas a vender quitutes e comidinhas. O porto mais importante do pais vivia repleto de marinheiros e viajantes. Muita cana-de-açúcar no Recôncavo da baía em frente, alambiques de cachaça por todo lado.
A Igreja aconselhava "pais e maridos a manter suas filhas e mulheres reclusas para que não se expusessem à frouxa moralidade".
Os padres se horrorizavam, "os batuques, as cantorias, as danças e as vinhaças varam noite a dentro ". Todo dia, toda noite, o ano todo. 

Por causa de tudo isso já se sabia que toda menina baiana tem um santo que deus dá, encantos e defeitos que deus deu, já que deus entendeu de dar a primazia, pro bem, pro mal, primeira mão na Bahia.
E como a cidade tinha muitas ladeiras e sempre chovia muito tinha gente que já aconselhava: ladeira abaixo seja o que deus quiser, não se perca de mim, não desapareça, não saia do meu lado, se embale, se embole, só pare na porta da igreja, se molhe de chuva, suor e cerveja.
O Axé vem de longe.