Presente de Grego

A Troika se reúne esta semana.
Será nos próximos dias a reunião da comissão formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI  que está inspecionando o cumprimento das reformas econômicas pela Grécia.

Atenas espera por algo em torno de 12,5 bilhões de euros em agosto e setembro mas seus principais credores, a Alemanha e o FMI não estão mais dispostos a colocar dinheiro bom em negócio ruim.
Philipp Rösler, ministro alemão da Economia diz que "se a Grécia não cumprir as condições que negociou, não poderá receber mais pagamentos" e que a falência da Grécia e sua saída da zona do euro "deixou de ser assustador há muito tempo". Os gregos se transformam em seu próprio presente anunciado.

O problema é que os gregos mentem, maquiam os dados, deixaram parados os planos das reformas durante a campanha eleitoral no início do ano e agora eles pedem mais tempo para a executá-las.
Além disso até as pedras da Acrópole sabem que os 130 bilhões de euros do segundo pacote já não bastam para sanar a economia.
Neste cenário Angie não irá novamente ao Parlamento alemão pedir a aprovação de um terceiro pacote grego quando nas últimas decisões parlamentares ela já teve dificuldades para chegar a um consenso dentro da própria coalizão de governo. A população então não quer nem saber dos problemas dos gastadores gregos, nem acha graça alguma trabalhar até aos 67 quando os gregos se aposentam aos 50 anos, com quatro horas de sesta.

O buraco é uma verdadeira tragédia de Sófocles, a dívida do país é 165% maior que o próprio PIB.
A Grécia precisa e espera receber 380 bilhões de euros até 2014. Isso é quase o tripo do que se gastou na reconstrução da Europa e da Turquia após a Segunda Guerra Mundial.
É mais do que o triplo que os 120 bilhões gastos na Reunificação da Alemanha, um gasto que desacelerou a economia européia e quase provocou uma recessão grave. Na verdade para alguns economistas boa parte dos problemas econômicos europeus atuais começou aí.

Na reunificação alemã foi preciso reconstruir integralmente um país inteiro, refazer todas as estradas, fazer autoestradas, refazer toda a infraestrutura inclusive a telefônica, de geração e fornecimento de energia, criar modernos centros industriais e reconstruir praticamente todos os domicílios. Isso para não falar de reformar toda a estrutura administrativa, legal, jurídica, econômica e financeira.
Isso num país que tinha uma população de 17,5 milhões contra os 11 milhões da Grécia. A grande São Paulo tem mais habitantes que a Grécia inteira.

No caso da Grécia a dívida é praticamente da farra financeira, refinanciamentos e gastos com a maquina do governo.
Até 2014 será preciso emprestar a cada grego o equivalente a 87 milhões de reais. É como premiar todos os gregos com uma mega sena de seis em seis meses. A todos, a cada um.
Não há Demóstenes que convença alguém em sã consciência a gastar tanto para salvar um pequeno país cuja população e classe política são percebidos na UE como inconsequentes.

A falência da Grécia e sua saída da zona do Euro mesmo que não desencadeie um efeito dominó dentro da UE terá conseqüências imprevisíveis, nenhuma delas boa, para a economia mundial que já não anda muito bem. A China já não está mais puxando a economia global como fez na última década.
Um ovo da serpente pode estar chocando debaixo das oliveiras. A Grande Recessão teve um gatilho bem menor.