Resumi um interessante artigo do jornalista português João Pereira Coutinho que faz uma reflexão sobre o momento europeu.
Não existe "o" projeto europeu o que existe é "um" projeto que falhou.
Jürgen Habermas fez uma conferência em Paris sobre a "crise da Europa" onde afirma que o problema central da crise é a falta de "interação entre os cidadãos e a comunidade". Não é admissível, acrescenta, que as últimas eleições para o Parlamento Europeu em 2009 tenham tido 56,99% de abstenção. Esse afastamento apenas oferece terreno fértil para a extrema-direita, que rejeita o projeto comum europeu.
Habermas defende a inserção dos cidadãos na vida europeia. Acontece que a experiência democrática implica a existência prévia de um povo que se define por um sentimento de pertença à sua comunidade.
A Europa, histórica e culturalmente falando, sempre foi uma coleção de comunidades independentes e de estados distintos com um patrimônio imemorial de rivalidades que nenhuma construção burocrática será capaz de superar.
Quando Habermas se horroriza com os 56,99% ele deveria perguntar primeiro para que serve o Parlamento Europeu.
Para nada.
Para nada.
O Parlamento Europeu continua a ser um apêndice do real centro do poder que é a Comissão Européia, e esta não foi eleita por ninguém. Foi simplesmente cozinhada nos corredores de Bruxelas.
O que espanta não são os 56,99% que se abstiveram, mas os 43,01% que ainda se deram ao trabalho de ir votar.
Sempre que a extrema-direita rejeita o projeto comum europeu a reação é sempre a mesma: quem levanta dúvidas sobre a União Europeia só pode ser fascista.
Infelizmente nessa busca de inimigos a União Europeia deveria olhar-se no espelho e perguntar se não é ela própria, na sua estrutura antidemocrática, que os está a semear por todo lado.
Não existe "o" projeto europeu, o que existe é "um" projeto que falhou.
Talvez seja hora de tentar outro. Uma União Européia que seja um espaço de livre circulação de pessoas, bens, serviços ou capitais, mas onde sua legitimidade esteja nos países democráticos e soberanos que a compõem.
Às vezes é preciso dar um passo atrás para evitar o abismo que está à frente.